Título: Dilma discute com Temer 'ajuste' no ministério
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2012, Política, p. A6

A presidente Dilma Rousseff, que tem preferido o termo "ajuste" à expressão "reforma ministerial", deve anunciar as mudanças em seu ministério de forma paulatina. A sinalização foi feita ontem, durante a primeira reunião deste ano entre Dilma e o vice-presidente Michel Temer.

A presidente convidou Temer a participar dos encontros setoriais que antecederão a reunião ministerial agendada para segunda-feira. Ao seu vice, Dilma contou que dará um recado claro aos 38 ministros que integram o primeiro escalão do Executivo: o foco do governo em 2012 deverá ser o crescimento econômico.

As substituições na Esplanada dos Ministérios devem começar com a saída de Fernando Haddad do comando do Ministério da Educação. O petista, que ocupa o cargo desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disputará a eleição para a Prefeitura de São Paulo e quer deixar o governo para preparar sua campanha.

No Palácio do Planalto, é dado como certo que o atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, substituirá Haddad. Ontem, Dilma indicou a Temer que procura um perfil técnico para a vaga que abrirá. A preferência por uma nomeação técnica tem uma justificativa: a presidente quer que uma das marcas de sua administração seja a promoção da inovação e da pesquisa aplicada no país.

Mercadante trabalha para que o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antonio Raupp, seja seu sucessor. Raupp tem o perfil desejado por Dilma, mas há quem diga no governo que sua eventual nomeação poderia dar poderes excessivos a Mercadante.

Uma alternativa defendida no PT é o deputado federal Newton Lima (SP). Por ser ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos, argumentam petistas, o parlamentar uniria capacidade técnica manteria o peso político da Pasta. Além disso, acrescentam os aliados do deputado, Lima é próximo ao ex-presidente Lula. Outras opções "técnicas" de Dilma citadas por parlamentares e autoridades do Executivo são os presidentes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, respectivamente Glaucius Oliva e Jorge Almeida Guimarães. Ou ainda Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia.

A presidente tem feito mistério sobre seus planos para mudar a equipe de ministros. Tratou do assunto com poucos, como o ex-presidente Lula. Mesmo assim, os partidos políticos passaram as últimas semanas enviando recados ao governo sobre suas demandas e expectativas.

O PMDB, por exemplo, considera-se subrepresentado na Esplanada dos Ministérios e gostaria de obter uma Pasta com maior peso político e capilaridade nos Estados. Alas do PT também sinalizaram que aceitariam ceder o Ministério da Ciência e Tecnologia ao PSB a fim de retomar o controle do Ministério das Cidades, Pasta também desejada pelo PMDB e atualmente nas mãos do PP.

Articuladores políticos do governo trabalham com um cenário segundo o qual a presidente não demonstra disposição de indispor-se com o PP, mas ponderam que a gestão do ministro Mário Negromonte não é bem avaliada no Palácio do Planalto. Já a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, também deve deixar o governo para disputar as eleições municipais. Ela é pré-candidata a prefeita de Vitória.

Nos próximos dias, a presidente realizará encontros com os ministros por setores do governo, como as áreas social e de infraestrutura. Os eventos serão preparatórios para a primeira reunião ministerial de 2012, na qual Dilma falará das prioridades do governo para o ano e reforçará que a principal meta de sua administração em 2012 é promover o desenvolvimento econômico e fazer o Produto Interno Bruto crescer. Dilma já disse que trabalha com uma meta de alta de 5% do PIB, índice acima do estimado pelo mercado.

Os encontros setoriais servirão também para a presidente avaliar os trabalhos de seus ministros no ano que passou, cobrar seus auxiliares e fixar os objetivos de cada Pasta para este ano. Em 2011, a presidente convocou apenas uma reunião ministerial, a qual foi realizada em 14 de janeiro no Palácio do Planalto.