Título: Crescimento eleva renda e emprego formal
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2006, Brasil, p. A3

O mercado de trabalho brasileiro traz sinais de melhora qualitativa. A maior qualidade está presente tanto na forma de contratação, pois o emprego com carteira assinada já cresceu 5,2% nos últimos 12 meses até maio, como também no aumento da renda dos novos contratados. De janeiro a maio deste ano, o salário médio dos admitidos no setor formal cresceu 5,25%.

Esse movimento, na avaliação de economistas, decorre não só do crescimento vivido pelo Brasil nos últimos anos, mas principalmente da estabilidade econômica. Como o custo da demissão é muito alto no país, a decisão pela contratação, ainda mais com carteira assinada, acaba por ser vista pelo empregador também como um investimento, explica o consultor e ex-ministro do Trabalho Edward Amadeo. "Agora, há mais confiança no crescimento e isso rebate positivamente no mercado de trabalho", ressalta.

A maior geração de emprego iniciada no fim de 2003 foi impulsionada pelo setor exportador e acabou influenciando outros setores da economia, como os serviços prestados às empresas. "Com uma oferta maior de vagas, houve espaço para negociar também melhores salários", diz Paula Montagner, coordenadora do Observatório do Trabalho, do Ministério do Trabalho.

Há um ganho nos rendimentos por duas vias. De um lado, o emprego sem carteira, que paga menores salários, tem se retraído. Nos últimos 12 meses terminados em maio, o nível de ocupação informal cedeu 0,7%. Assim, saem da força de trabalho as pessoas que ganham menos e entram as com carteira. "A abertura de um posto no primeiro grupo e o fechamento no segundo provoca uma elevação do rendimento real da economia", diz Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse.

Ao mesmo tempo, o salário com carteira tem crescido. Entre abril deste ano e o mesmo mês de 2005, o rendimento real no setor formal subiu 5,9% e o pago para quem não tem carteira cresceu só 1,4%. "O ganho de renda reflete tanto a menor pressão da inflação, como também um movimento de valorização dos salários em geral", afirma Fábio Romão, da LCA Consultores.

A evolução da massa salarial também tem sido positiva e apresenta um movimento que ainda não foi visto na nova pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2002. Tanto na comparação interanual terminada em abril, como na média do primeiro quadrimestre deste ano, a massa cresce puxada pelo aumento do rendimento e não da ocupação, como o que ocorreu nos últimos anos.

Nos últimos 12 meses até abril, a massa avançou 5,51%, sendo que 3,34 pontos percentuais, ou 60,6%, vieram da renda e 2,10 pontos foi a contribuição da ocupação, de acordo com os cálculos de Romão. Em 2005, a situação era oposta. Nos quatro primeiros meses, a massa salarial cresceu 3,36% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mas a renda entrou com um impacto negativo de 0,10 ponto percentual e todo o crescimento veio da ocupação: 3,47 pontos.

O avanço do emprego para pessoas mais qualificadas também reflete em um mercado de trabalho de mais qualidade. Neste começo de ano, até maio, a ocupação não cresceu tanto, apenas 0,8%. Porém, para as pessoas com pelo menos o ensino médio completo, o avanço do emprego foi bem acima da média: 4,4%. "A abertura de vagas já não ocorre de forma tão vigorosa neste ano, mas o que se vê agora é uma melhor qualidade dos postos, seja pela carteira assinada, seja pelos maiores salários ou pela maior qualificação", diz Paula.

A continuidade da expansão do emprego na indústria e em serviços mais especializados tem ajudado a impulsionar a renda. Pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, de janeiro a maio deste ano foram criadas 195 mil vagas formais na indústria de transformação, o que representou 25,4% do total. Em 2005, neste mesmo período, o emprego nesse ramo avançou menos e representou 23% do total de vagas geradas.

Para Paula, do Ministério do Trabalho, isso prova que o menor crescimento das exportações não causará impacto negativo no emprego. "Em primeiro lugar, é preciso lembrar que as vendas externas do Brasil não estão em queda, apenas crescem a um ritmo menos forte - seja pela valorização do câmbio, pela base de comparação mais forte ou pela menor demanda externa", diz. Na sua avaliação, o câmbio valorizado não afeta de forma homogênea os setores e há quem siga exportando e contratando. E, se os investimentos e a demanda doméstica continuarem a crescer, como o que temos visto, essa trajetória positiva do mercado de trabalho se intensificará. (RS)