Título: ONU reduz projeção para economia global
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Fonte: Valor Econômico, 18/01/2012, Internacional, p. A6

A crise econômica e a enorme desalavancagem (processo de redução de endividamento) em mercados importantes podem resultar numa redução de US$ 7 trilhões na produção global nos próximos anos, até 2016. Essa estimativa, do Banco Central do Canadá, foi reforçada ontem pelo cenário desenhado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em relatório sobre as perspectivas econômicas para 2012.

Para a ONU, cresce o risco de uma nova recessão global diante da persistência do desemprego elevado, da crise da dívida na zona do euro e de adoção prematura de medidas de austeridade fiscal.

A entidade projeta agora um crescimento global de apenas 2,6% em 2012, na melhor das hipóteses, contra os 4% estimados para o ano passado. E mesmo isso depende do controle da crise na zona do euro e do abandono de toda nova medida de austeridade fiscal nos países desenvolvidos, algo que está fora do radar.

Somente neste ano, a perda em produção global pode chegar a US$ 1 trilhão, representando a diferença entre o cenário básico da ONU e suas propostas por novos estímulos, afirmou o economista Robert Shelburn ao apresentar o relatório da entidade.

O volume do comércio mundial deve ficar 30% abaixo do nível que poderia ser atingido se não houvesse ocorrido a crise financeira internacional.

Para os economistas das Nações Unidas, 2012 será um ano decisivo para o mundo, entre a recuperação econômica ou a queda em nova recessão.

O maior risco para a economia global, segundo a entidade, é a possibilidade de os líderes, sobretudo nos EUA e na Europa, não conseguirem fazer face à crise do emprego e impedir o agravamento do rebaixamento das dívidas soberanas e da fragilidade do setor financeiro.

""As economias desenvolvidas estão próximas de cair numa espiral depressionista resultante de quatro fraquezas que se alimentam entre si: a degradação da dívida soberana, a fragilidade do setor bancário, demanda baixa e paralisia nas tomadas de decisão por causa de impasse político e deficiências institucionais"", diz a entidade global.

A piora em apenas um desses pontos pode causar uma ""grave tormenta financeira e uma depressão econômica"".

A ONU conclama os governos dos países desenvolvidos a não aplicar prematuramente políticas de austeridade fiscal. E recomenda melhor coordenação internacional para mais estímulos, a fim de criar empregos e elevar investimentos.

O presidente do Banco Central do Canadá, Mark Carney, também vem insistindo na importância de cooperação internacional. As grandes economias desenvolvidas, cuja demanda é insuficiente, não podem equilibrar suas contas e estimular a poupança das famílias sem o apoio de uma demanda estrangeira maior. Por sua vez, ele nota que os emergentes, já sofrendo desaceleração do crescimento por causa da fraqueza da demanda dos países ricos, são reticentes em abandonar uma estratégia que os ajudou no passado e recusam deixar a taxa de câmbio se ajustar.

Para Carney, as duas estratégias são perdedoras. E, sem cooperação internacional, ele prevê baixa colossal do PIB mundial.