Título: No Brasil, violência mata 15,7% dos homens
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2004, Brasil, p. A4

As estatísticas de registro civil de 2003 divulgadas ontem pelo IBGE revelaram que em uma década (1993-2003) as mortes violentas de pessoas do sexo masculino no Brasil cresceram 13,7%, passando de 13,8% para 15,7% do total de óbitos. Foram registradas 106.996 mortes violentas em 2003, das quais 90.426 de homens e 16.570 de mulheres. Dos óbitos violentos ocorridos entre os homens, 42,5% (38.437) foram de indivíduos entre 15 e 29 anos de idade. Por morte violenta o IBGE compreende todas aquelas consideradas não naturais, como homicídios, suicídios e as provocadas por acidentes de trânsito. "As informações sobre óbitos violentos nos levam a inferir que o fenômeno da violência tem sido a causa de mortes não apenas nas áreas consideradas mais dinâmicas do país, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. O que os dados apontam é que o fenômeno vem se generalizando no país como causa de mortalidade, especialmente entre indivíduos do sexo masculino, tendo estudos recentes apontado o impacto sobre os grupos etários mais jovens", resumem os analistas do IBGE na apresentação dos dados. Houve uma queda do percentual de mortes violentas entre os homens de 2002 para 2003, com a participação se reduzindo de 16,3% para os 15,7% já mencionados. Para Celso Simões, analista da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, a redução em um ano "não chega a ser significativa" como indicador de tendência. Segundo Simões, é necessário aguardar mais uma seqüência de dois ou três anos para se ter uma definição melhor.

Além de mostrar que entre as mulheres o percentual de mortes violentas em relação ao total praticamente não aumentou no período analisado, baixando de 4,2% para 4,1%, o levantamento revela que no sexo feminino a participação relativa das mortes violentas é quase a quarta parte das ocorrências entre os homens. Os números mostram ainda que entre as unidades da federação, o Distrito Federal é o que apresenta maior taxa de óbitos violentos entre os homens, 24,5% do total. Em São Paulo a taxa é de 18,8% e no Rio de Janeiro, 17,2%. No Piauí, cai para apenas 8,1% e no Amazonas, para 9%. Mas o IBGE alerta para o risco de as comparações estarem comprometidas por problemas de sub-registro, tanto de óbito como de nascimento, detectados principalmente nos Estados do Norte e Nordeste. A boa qualidade dos registros é vista pelo IBGE como uma das possíveis causas da liderança do Distrito Federal em óbitos violentos de homens. Quando se observam os dados de algumas das regiões metropolitanas das capitais, Vitória aparece em destaque, com 28,38% de mortes violentas no total de óbitos masculinos registrados. São Paulo tem uma proporção de 21,69%; Belo Horizonte, de 21,15%; Recife, com 20,57%; Rio de Janeiro, de 17,41%; Fortaleza, com 16,59%; Porto Alegre, com 14,02; e Salvador, com 13,72%. Considerando apenas as duas maiores capitais brasileiras, verifica-se que as mortes violentas de homens residentes em São Paulo representaram 24,63% do total em 2003, enquanto no Rio de Janeiro, o número cai para 15,87% dos óbitos masculinos. O levantamento divulgado ontem revela que o sub-registro de nascimentos continua alto, embora em trajetória declinante. O IBGE estima que 23,4% das crianças nascidas em 1993 deixaram de ser registradas no ano de nascimento, contra 21,6% no ano passado. Na região Norte, onde as dificuldades de locomoção e a escassez de cartórios são maiores, o sub-registro chega a 25,8% dos nascimentos. Segundo a pesquisa do IBGE, os nascimentos de filhos de mães com menos de 20 anos de idade passou de 17,3% do total em 1993 para 20,8% em 2003. O IBGE constatou que o sub-registro mascara as taxas de mortalidade infantil. O número oficial do país é de 20,8 óbitos de crianças com menos de um ano de idade por mil nascidas vivas, calculado por técnicas demográficas indiretas. Com base nos dados do registro civil, ela cai para 15,6%. Os números revelam também que as mortes de crianças com menos de um ano estão progressivamente se concentrando na fase chamada neonatal precoce (até seis dias de vida). Elas passaram de 38,5% do total para 48,9% em dez anos, enquanto os óbitos no período pós-neonatal (de 28 a 364 dias de vida) baixaram de 50,3% para 35,4% do total. A concentração da mortalidade infantil na fase neonatal precoce é mais comum nos países que possuem bons sistemas de saúde.