Título: Rigor fiscal sob dúvida
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 28/09/2010, Economia, p. 13

A capitalização da Petrobras e as operações secundárias envolvendo a União reacenderam a discussão da validade dos compromissos fiscais assumidos pelo governo, que, segundo o mercado, tem adotado uma engenharia contábil considerada artificial por parte do mercado com o objetivo de facilitar a economia de recursos, mesmo diante de um grande aumento de investimentos e gastos de custeio.

A antecipação de dividendos e as triangulações envolvendo ativos das empresas públicas têm diminuído a confiança dos agentes de mercado na meta de resultado primário rígida, como ela foi estabelecida originalmente.

Para este ano, a maior parte dos analistas já trabalha em suas projeções com a possibilidade de a União economizar menos que os 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB), valendo-se dos abatimentos que podem ser feitos, como o desconto dos recursos utilizados em investimentos.

A impressão que temos é que eles querem desinventar a moeda e voltar à época do escambo, com todas essas trocas de ativos, de ações por títulos da dívida, considerou Felipe França, economista do banco ABC Brasil.

Para Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, o quadro pode não piorar drasticamente no curto prazo, mas precisa ser revisto no futuro.

Não é um desastre imediato, mas gera incertezas. Fora o fato de que estemesmogovernoconsolidou regras que agora estão sendo deturpadas, ponderou. A consultoria estima que o governo só deve alcançar uma economia equivalente a 2,6% este ano.

Já o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Ratings, Alex Agostini, discorda das avaliações.

Contrário aos discursos mais ásperos, Agostini afirma que o mercado só deve reagir negativamente caso o governo entregue um percentual de superavit primário muito baixo. Do contrário, tenho certeza de que a maioria vai continuar reclamando, mas vai aceitar a flexibilização da meta, porque estamos num momento econômico favorável, disse. (GC)