Título: Antes do embargo, refinarias já cortam petróleo iraniano
Autor: Blas,Javier
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2012, Internacional, p. A8

As refinarias europeias começaram a romper os laços com o Irã, ao suspender as compras de petróleo bruto no mercado à vista, em antecipação à reunião da União Europeia (UE), marcada para o fim deste mês, que poderá impor um embargo total de petróleo a Teerã.

Executivos do setor e traders de petróleo disseram que algumas refinarias pararam de adquirir ou reduziram as novas compras de petróleo iraniano, embora continuem a receber carregamentos mensais previstos em acordos de longo prazo anteriores, ou contratos futuros, que não podem romper sem ficar sujeitos a penalidades.

"Continuamos a comprar, segundo os contratos futuros, mas não fazemos mais transações à vista com eles", disse um alto funcionário de uma refinaria do sul da Europa. Outros altos executivos do setor de refino e vários traders de petróleo confirmaram a queda dos negócios no mercado à vista.

Tradicionalmente, as refinarias compram dois terços de seu petróleo por meio de contratos futuros e o restante no mercado à vista, embora a distribuição precisa da aquisição varie de empresa para empresa. No caso de um embargo, as refinarias europeias poderão declarar "force majeure" e cancelar seus contratos futuros sem sofrer penalidades.

As empresas estão se preparando para um embargo da União Europeia (UE) ao petróleo exportado pelo Irã, num momento em que os países ocidentais intensificam suas pressões para que Teerã abandone seu suposto programa de armas nucleares. Os Estados Unidos também lançaram sanções destinadas a penalizar as instituições financeiras externas que negociam com o banco central do Irã, responsável pela liberação da maior parte das exportações de petróleo. "No momento, os bancos estão sofrendo restrições [em financiar negócios com o Irã]", disse o diretor de comércio exterior de commodities de um grande banco.

"As refinarias estão reduzindo as compras de petróleo iraniano em resposta às novas sanções dos EUA e ao prever um embargo por parte da UE", afirmou David Greely, diretor de análise de petróleo do Goldman Sachs em Nova York, em nota encaminhada aos clientes.

A paralisação dos negócios obrigou o Irã a estocar mais petróleo bruto em superpetroleiros ancorados no Golfo Pérsico. A corretora de contratos de transporte marítimo Gibson estima que o volume de petróleo iraniano retido em "armazenagem flutuante" tenha aumentado dos 28 milhões de barris do fim de novembro para 32,5 milhões de barris atualmente. "As pessoas, de modo geral, estão recuando devido à associação com o Irã. Cada vez mais pessoas estão tomando essa decisão voluntariamente", disse Patrick Tye, analista-sênior de transporte marítimo da Gibson de Londres.

O Irã é o terceiro maior exportador mundial de petróleo e vende cerca de 2,3 milhões de barris/dia, principalmente para a Ásia. A UE compra cerca de 450 mil b/d, em média.

Entre as refinarias de petróleo sediadas na Europa, a Royal Dutch Shell é a maior compradora de petróleo bruto iraniano, segundo os volumes previstos em contratos futuros de longo prazo, de acordo com estimativas da publicação setorial "Argus Media".

Entre os demais compradores estão a francesa Total, as espanholas Repsol YPF e Cepsa, as italianas ENI, Saras e ERG e a grega Hellenic.

Os Estados Unidos deixaram de importar petróleo iraniano em outubro de 1987 e pressionaram com sucesso empresas europeias, como a Total e a Royal Dutch Shell, a suspender seus investimentos no enorme setor energético do país.