Título: Empresas ampliam portfólio de obras de arte
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Empresas, p. B4

Empresas que licenciam obras de arte no Brasil, apesar de trabalharem num mercado ainda incipiente, ampliam o seu portfólio.

Artistas de fama já consolidada engordam a lista de fornecedores de arte, para estampar os mais variados produtos, ao lado de outros menos conhecidos do grande público.

A empresária Bia Duarte cuidou exclusivamente do licenciamento do artista pernambucano Romero Britto por cerca de cinco anos. Neste ano, ela decidiu abrir uma nova empresa para agenciar outros artistas. "Essa área tem crescido muito", afirma Bia. As empresas, observa, estão prestando uma atenção maior em obras de arte que "comunicam algo de belo e alegre".

Usando trabalhos de Romero Britto, Bia fechou contratos com empresas de grande porte como V&S Absolut Spirits, produtora da Vodka Absolut, Disney, PepsiCo e a fabricante de relógios Swatch. No Brasil, o artista, conhecido por sua obra colorida e pop, já estampou embalagens do sabão em pó Omo, coleções da grife Rosa Chá, produtos da Hering e os panetones da Bauducco.

Na Cabon Licensing, a idéia é associar o nome Victor Brecheret (1894-1955) a produtos de luxo. A Cabon negociou um acordo com a herdeira de Brecheret há três anos. Durante esse período, a empresa prospectou o mercado para saber qual seria a melhor estratégia para a marca.

A conversa com outras empresas começou somente há dois meses. "Estamos procurando licenciar a marca para fabricantes de automóveis, jóias, chocolates finos ou até a um banco", explica Wilma Bonfá, diretora executiva da empresa, lembrando que o banco holandês ABN AMRO Real escolheu o conterrâneo Van Gogh para lançar serviços a um público mais sofisticado. Segundo a executiva, "até o final do ano, provavelmente fecharemos cerca de três contratos", diz.

Três meses atrás, Bia também decidiu ampliar sua atuação no mercado. Ela fundou a empresa B Licenças Poéticas que, além das obras de Britto, já tem contrato com outros quatro artistas - os brasileiros Sônia Menna Barreto e Gustavo Rosa, o espanhol David Dalmau e o florista inglês Kenneth Turner. "O interesse das empresas por esse tipo de licenciamento tem crescido, já que a arte gera beleza e prazer para o consumidor final."

Uma das empresas mais antigas nesse ramo é a Portinari Licenciamentos. Em dez anos de existência, as obras de Cândido Portinari - nascido em uma fazenda de café no interior do Estado, em 1903, e morto por intoxicação das tintas que usava, aos 59 anos -, já foram expostas em copos de requeijão da Nestlé, tapetes Tabacow e jóias e relógios da H.Stern.

Atualmente, a companhia possui três contratos ativos, todos com empresas importantes: uma linha de produtos do Boticário, de jóias da Amsterdam Sauer e da fabricante de artigos de cerâmica Cecrisa.

"A idéia é transformar a marca Portinari em um selo de qualidade", afirma João Cândido Portinari, único herdeiro do artista e proprietário da Portinari Licenciamentos. "Por isso, não nos interessa ter muitos licenciados, mas contratos com empresas de grande porte, mesmo que sejam poucos."

Segundo o executivo, descobriu-se, em pesquisas realizadas para a Portinari Licenciamentos, que "um produto com a marca Portinari poderia ter um valor 30% maior". Ele diz, também, que foram identificados quatro atributos da marca: brasilidade, beleza, amor à vida e maestria.

Nesse momento, ele está em busca de licenciamentos de produtos como café e tinta, já que a obra de Portinari tem muitas referências a cafezais e as cores usadas por ele são uma marca forte de sua obra.

O Boticário é uma das empresas que trabalham com a obra do artista paulista desde 1998, quando lançou a Colônia Portinari, hoje uma linha com cinco produtos. "O público se encanta", afirma Tatiana Ponce, gerente de marketing de perfumaria da rede. A experiência deu certo e, há quatro anos, foi lançada a colônia Tarsila, com as obras da pintora modernista Tarsila de Amaral, hoje com três produtos.