Título: BNDES suspende empréstimo à Volks
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Empresas, p. B8

Está suspensa a liberação do financiamento de R$ 497 milhões à Volkswagen para que o BNDES possa verificar se o plano original de investimento da montadora está sendo seguido. O governo chama de "fato novo" a possibilidade de fechamento da unidade de São Bernardo do Campo (SP), com a demissão de milhares de operários. O sinal verde para a liberação depende, agora, da negociação entre a Volks e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Ontem, reuniram-se no Palácio do Planalto, por mais de duas horas, representantes do governo e da montadora. Discutiram a possibilidade de fechamento da unidade do ABC os ministros Luiz Marinho (Trabalho), Dilma Rousseff (Casa Civil) e o presidente do BNDES, Demian Fiocca. Pela Volks, estavam, entre outros representantes, o vice-presidente de Recursos Humanos, Josef-Fidelis Senn.

Marinho afirmou que, enquanto a negociação não for consolidada, o BNDES vai "suspender e aguardar". "A possibilidade de desmobilização das atividades em uma das fábricas não tinha sido colocada num primeiro momento", disse Fiocca. O banco informou que o último financiamento de R$ 497 milhões, aprovado recentemente, está vinculado a investimentos em várias fábricas.

O presidente do BNDES justificou que, seguindo o padrão técnico dos seus contratos, quando há fato novo que pode alterar o desenho do projeto aprovado, o banco pode solicitar esclarecimentos para verificar qual é o desenho final dos investimentos que a empresa pretende fazer.

Na interpretação de Marinho, o plano apresentado ao BNDES não inclui o fechamento da unidade do ABC. Na reestruturação global da Volks, o governo pretende ver mantidas todas as linhas brasileiras, seguindo os investimentos que viabilizaram desde o final dos anos 90 as novas unidades de produção de motores, caminhões e automóveis em São José dos Pinhais (PR). "Esperamos que essa reestruturação seja mantida exatamente com esse potencial de a fábrica produzir no Brasil", explicou o ministro.

Marinho disse que a conversa de ontem serviu para ponderar sobre a necessidade de concluírem a negociação com um acordo que seja "bom para as partes e excepcionalmente bom para o Brasil". "Não entramos nesses detalhes se vai haver demissões. O governo não participa da negociação entre a empresa e os trabalhadores. Chamamos a empresa para discutir essa eventualidade de fechar ou não uma fábrica", explicou o ministro.

O BNDES tem linhas de apoio ao setor automobilístico e vem apoiando investimentos da Volks e de outras empresas. As linha de apoio à exportação também foram ampliadas.

Fiocca negou que tenha sido oferecida alguma proposta para que a unidade de São Bernardo do Campo não seja fechada. "O que há neste momento é a necessidade de uma reavaliação do impacto das negociações nas estratégias de investimento", afirmou.

O investimento de R$ 497 milhões ainda não liberado para a Volks tem o objetivo de modernizar fábricas, atualizar design de vários modelos e implantação de novas linhas de produção. A reunião de ontem, segundo Fiocca, não foi uma negociação específica com o BNDES. "O que pedimos à empresa é que, como começaram a aparecer fatos novos na imprensa, temos de avaliar se há mudança nos planos de investimento. A Volks respondeu que, a princípio não, mas só vai ter o plano final quando concluir o acordo com o sindicato", reiterou Fiocca.

A reunião da direção da Volks com o governo ontem não encerrou as negociações com os trabalhadores. Segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as conversas deveriam prosseguir à noite e hoje até às 14h30, horário da assembléia que reunirá os empregados da montadora na troca de turnos. Existe uma grande expectativa em torno dessa assembléia, que poderá decidir o futuro da fábrica do ABC.

O secretário-geral do sindicato, Rafael Marques, aprovou ontem a iniciativa do BNDES. "Espero que essa decisão leve a Volks a refletir", disse. A montadora não se pronunciou. (Colaborou Marli Olmos, de São Paulo)