Título: Entraves no programa do biodiesel
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Agronegócios, p. B12

Falta de sementes de mamona para atender produtores do Nordeste, problemas na distribuição, projetos em andamento que gerarão oferta maior que a demanda prevista para 2008. Estas são algumas das arestas que o governo federal precisa aparar para que o programa nacional de biodiesel deslanche sem entraves.

De acordo com dados da Embrapa, será necessário cultivar 300 mil hectares de mamona para atender à demanda de biodiesel da Petrobras. A estatal constrói três usinas - em Quixadá (CE), Candeias (BA) e Montes Claros (MG) - que, juntas, processarão 50 mil toneladas de óleo vegetal por ano. Hoje, a oferta de sementes de mamona atende metade dessa demanda. A Embrapa implantará um programa de produção de sementes básicas para estimular o plantio no Nordeste, onde a mamona é carro-chefe do programa.

Na área de distribuição, houve problemas com os prazos de entrega do biodiesel contratado primeiro leilão da Petrobras. As empresas deveriam enviar 20% dos 70 milhões contratados em maio, mas o prazo foi alterado para agosto. Diego Ferrés, sócio-diretor da Granol, observou que as empresas dependiam de autorização da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Mas, durante meses, a agência deixou de conceder autorizações por falta de diretores em seu colegiado. "O Congresso demorou para sabatinar as pessoas que preencheriam os cargos", disse Ferrés.

Até o dia 21, a Granol, a Brasil Ecodiesel e a Agropalma entregaram 24,1% do volume contratado, sendo que 15,1 milhões de litros foram obtidos pela BR Distribuidora e 671 mil litros pela Ale. A Shell, que deve adquirir até o fim do ano 1,8 milhão de litros, não recebeu o biocombustível. Em entrevista à Reuters, Adriano Dalbem, diretor de Suprimentos da Shell Brasil, disse que a empresa agirá com cautela para não correr riscos de desabastecimento.

A empresa pretende comercializar 775 milhões de litros do B2 (mistura de 2% de biodiesel no diesel) até o fim de 2007. Para isso, precisará adquirir 15,5 milhões de litros do biocombustível. A empresa vai investir R$ 12 milhões em infraestrutura de recebimento, mistura e distribuição do produto.

Nesta quarta-feira, o presidente Lula participa em Brasília de encontro, promovido pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), para discutir problemas e oportunidades na área de biodiesel. A expectativa é que, durante o encontro, o governo federal anuncie o adiantamento dos prazos para a mistura de biodiesel no diesel.