Título: Diretor da Polícia Civil do DF deixa cargo
Autor: Resende,Thiago
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2012, Política, p. A16

A divulgação ontem do áudio de um vídeo agravou a já frágil situação política do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Onofre Moraes, aparece numa gravação dizendo que o governador do PT acabaria saindo do governo em um "camburão da Polícia Federal".

A data da gravação é 16 de junho de 2011. À época, Moraes ainda não ocupava o cargo. Ele assumiu o posto de diretor-geral em novembro passado, quando Agnelo exonerou toda a cúpula da Polícia Civil. Aos 38 minutos da gravação, ele menciona que o governador seria investigado pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e que possivelmente seria alvo de diversos processos na Justiça. Ao fim da gravação, completa: "Sabe o fim dele qual é? Renúncia".

O vídeo foi postado pelo jornalista Edson Sombra, em seu blog, na quarta-feira à noite. Ele afirma que, na época, "Onofre fomentava a queda" da então diretora-geral da polícia, Mainline Alvarenga. Sombra é um dos pivôs das denúncias que levaram o então governador José Roberto Arruda (DEM) à renúncia e à prisão pela Polícia Federal.

Em 2010, Sombra apareceu em um vídeo em que passaria por uma tentativa de suborno, durante investigação da Polícia Federal sobre o suposto esquema de corrupção conhecido como "mensalão do DEM". Essa gravação culminou na prisão do ex-governador Arruda.

Agnelo reuniu-se na manhã de ontem com Moraes e o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar. Em seguida, exonerou-o do cargo. Em entrevista coletiva, o porta-voz do governador, Ugo Braga, disse que a exoneração foi para "garantir a normalidade administrativa e funcional da Polícia Civil do DF". O secretário Avelar foi designado para escolher o substituto para a direção-geral da polícia. Ainda não há prazo para a nomeação.

Por outro lado, Agnelo acelerou a estratégia para ampliar sua base de apoio na Câmara Distrital e, desta forma, diminuir as chances de ser afastado do cargo. Ele criou no fim de 2011 a 34ª secretaria - esta, batizada de Secretaria de Regularização Fundiária - para abrigar mais um partido e acelerou ontem a articulação para preenchê-la. O órgão será responsável por avaliar os processos de regularização de condomínios de classe média em Brasília, criados a partir de grilagem de terras públicas.

Para o cargo, o favorito é o deputado distrital Washington Luiz, do recém-criado Partido Pátria Livre (PPL). O idealizador da secretaria é o também deputado distrital Agaciel Maia (PTC), ex-diretor-geral do Senado e pivô de um dos maiores escândalos da história da Casa: a criação de cargos e contratações por meio de atos secretos.

A criação de outra secretaria e nomeação de mais um parlamentar para sua equipe também integra outra estratégia do governador: a de enfraquecer eventuais dissidentes dentro do PT. Isso porque a regularização de condomínios estava a cargo da Secretaria de Habitação, chefiada pelo deputado federal Geraldo Magela (PT-DF), uma das principais lideranças políticas do partido. Em 2010, Magela pleiteou a candidatura a governador contra Agnelo, mas acabou sendo vencido. Antes de Magela, quem perdeu força no governo foi Arlete Sampaio, outra referência do petismo local. Ela ocupava a Secretaria de Desenvolvimento Social.

Tanto Magela quanto Sampaio são considerados pela base da legenda alternativas de candidaturas em 2014, caso Agnelo tenha problemas em concluir o mandato ou mesmo a insatisfação na base petista aumente. Há reclamações quanto à falta de uma marca de governo, à cada vez maior participação de adversários históricos do PT em cargos no primeiro escalão e à falta de diálogo interno na sigla.