Título: O alerta das urnas
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 28/09/2010, Mundo, p. 20

O resultado das eleições legislativas na Venezuela mandou um alerta ao presidente Hugo Chávez. O governante conseguiu a maioria (simples) para seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), mas não garantiu carta branca para seguir com as reformas bolivarianas em 2011. O chavismo não conseguiu os dois terços da Assembleia Nacional (Parlamento) que lhe permitiriam continuar a ditar leis orgânicas e a governar por decreto, disse ao Correio Alfredo Ramos Jiménez, diretor do Centro de Pesquisas de Política Comparada da Universidad de los Andes. E não poderá escolher o fiscal de contas da União, o promotor público, o defensor do povo, os reitores do Conselho Nacional Eleitoral e magistrados do Tribunal Supremo de Justiça, acrescenta.

Chávez, por sua vez, pediu a simpatizantes que continuem a batalha e ironizou os opositores que se proclamaram vencedores. Em mensagem publicada no microblog Twitter, ele adiantou o discurso otimista: Bom dia, mundo lutador. Umbreve intervalo reparador e... vamos continuar a batalha! A oposição, que reuniu mais de 20 partidos de direita e de esquerda naMesa deUnidadeDemocrática (MUD), comemorou o fato de ter obtido 52% dos votos. Dizem os esquálidos (opositores) que ganharam. Bom, sigam ganhando assim!, completou Chávez. O Partido Pátria para Todos (PPT)que se denominounemchavista,nemoposição conseguiu apenas dois deputados no estado do Amazonas, enquanto os indígenas obtiveram três representantes.

Com a maioria de 52% dos votos dos 11milhões de votantes, a aliança da oposição elegeu 64 de um total de 165 parlamentares. O PSUV, com 48% do apoio dos eleitores, arrebatou 95 assentos da Assembleia. O analista venezuelano consultado pela reportagem explica que o paradoxo dos opositores com mais votos e menos cadeiras se deveu ao favorecimento do voto rural sobre o voto urbano. A oposição só não conseguiu um maior número de deputados por causa da distorção do novo sistema eleitoral, que implementou a Assembleia monocolor chavista: nas áreas com menos habitantes, mas controladas (pelo governo), aumentou o número de deputados, esclarece Jiménez.

No entanto, para o analista, o resultado das legislativas soou como fracasso para Chávez, uma vez que o presidente quase transformou a campanha em plebiscito sobre sua figura. Ele disse que (as legislativas) eram a primeira etapa de sua reeleição em 2012. Então, ele sai derrotado, com menos votos, diz Jiménez.

O chefe de campanha do PSUV, Aristóbulo Istúriz, considerou o resultado uma vitória contundente, mas admitiu que o partido se preparou para alcançar os dois terços da Assembleia e que não foi possível conseguilo. Talvez não vejamos a dimensão (da vitória) pela meta que tínhamos, de 110 deputados, que não foi alcançada por nenhum partido político, disse Istúriz.

Novos rumos Em Nova York, onde participa da 65ª Assembleia Geral da ONU, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recordou o boicote dos antichavistas no pleito de 2005 e considerou muito bom que a oposição tenha decidido participar desta vez, porque isso leva a um diálogo. Já o líder cubano Fidel Castro acusou os EUA de impedirem que Chávez conseguisse os dois terços das cadeiras.

A preocupação da oposição agora é a data para os parlamentares assumirem o cargo: 5 de janeiro de 2011.

Nesses três meses, Chávez poderia adiantar a aprovação das leis pendentes, avalia Jiménez.Oanalista crê na possibilidade de os deputados do PSUV mudarem a necessidade de maioria absoluta para os decretos presidenciais. Seria muito ilegítimo e o custo político seria muito alto.

Mas poderiam fazê-lo, afirma.