Título: Otimismo é maior entre famílias de menor renda
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Brasil, p. A3

O mercado de trabalho estreito em relação à demanda e o cenário político marcado por sucessivos escândalos está levando o consumidor brasileiro a uma percepção negativa do momento atual, embora a expectativa para os próximos seis meses seja de melhora. Em síntese, este foi o quadro traçado pela edição de agosto da Sondagem de Expectativa do Consumidor, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A avaliação atual foi 2,9% pior do que a de julho, mas dos próximos seis meses ficou 2,5% melhor. Como a avaliação futura tem peso maior, o Índice de Confiança do Consumidor oscilou 0,7% para cima.

"Parece qua a avaliação atual ainda está muito influenciada pela turbulência do ambiente político e também por uma avaliação não muito favorável do mercado de trabalho", resumiu o economista Aloísio Campelo, responsável pela divulgação do indicador. A FGV pesquisou uma amostra de 2 mil domicílios em sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife e Porto Alegre) nos dias 21 e 22 deste mês.

A avaliação do momento atual ficou, pela primeira vez, abaixo da base da pesquisa, que é setembro do ano passado, quando o indicador foi reformulado. A avaliação econômica da cidade onde vive o entrevistado foi a segunda pior da série. Somente 9,1% acharam a situação boa, enquanto 47,1% consideraram ruim. O resultado foi 1,6% pior do que o de julho. Quanto à atual situação financeira da família, o resultado das avaliações foi 3,7% pior do que o do mês passado.

Quando o questionário passou do momento atual para os próximos seis meses, as respostas sobre a situação econômica local foram 3,6% melhores do que em julho e a expectativa quanto à situação financeira da família melhorou em 6,8% das respostas. "Parece já haver uma percepção de que a economia, lentamente, está crescendo e que deve continuar a crescer nos próximos meses, levando o consumidor a ficar um pouco mais otimista", analisou Campelo.

Mesmo mais otimista, o consumidor não está disposto a aumentar suas compras. Ao contrário, a posição neste quesito ficou 5,3% abaixo da de julho. A FGV constatou que o aumento do índice de confiança foi comandado por São Paulo e por Brasília, uma vez que nas demais capitais o indicador sofreu recuo. O otimismo entre as famílias com renda até R$ 2.100 está mais de dez pontos percentuais maior do que entre as que ganham mais de R$ 9.600 por mês.

A FGV quis saber, fora do questionário padrão, o que os brasileiros estão esperando da economia brasileira nos próximos cinco anos. O resultado foi que 54,3% acham que ela irá crescer mais do que agora, mas somente 3,8% avaliam que irá crescer muito mais. Entre os ricos, a resposta "muito mais" abrangeu 5,9%, enquanto entre os pobres, somente 2,4% responderam da mesma forma.