Título: Do PT pode surgir um candidato avulso
Autor: Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2004, Política, p. A6

A sucessão na Câmara nunca se deu por um processo simples: há sempre divisões dentro do partido com maior número de deputados e com direito regimental à presidência; há partidos minoritários que brigam por ascender à presidência numa troca de posições com o Senado; e há rebeliões que costumam produzir uma candidatura avulsa em plenário para brigar pelo cargo, entre outros modelos de rebeldia às regras. Qualquer desses processos já foi uma experiência de sucesso, o que estimula o experimento na Câmara, sem maiores traumas. Fiel à confusão armada em torno deste assunto desde o início do ano, quando o atual presidente, João Paulo Cunha, começou a lutar pela reeleição, projeto que se frustrou só depois de comprometer totalmente os trabalhos do Legislativo este ano, o PT lança-se à sucessão a partir de uma crise. Havia, no PT, entre oito e nove candidatos à presidência da Câmara. A todos foi recomendado que procurassem se viabilizar politicamente, tanto dentro da bancada, responsável pela escolha de apenas, como entre os demais partidos. O trabalho de contra-informação perturbou um pouco o início de campanha. Ora se espalhou que o presidente Lula estava apoiando Virgílio Guimarães (no início do processo), ora que seu candidato era Eduardo Cardozo (no meio), foi Paulo Delgado (mais recentemente), e depois Luiz Eduardo Greenhalgh (agora). Paulo Rocha já esteve no topo da lista, e Walter Pinheiro, da esquerda do partido, mantinha-se na disputa mesmo com pouco apoio. Ficou decidido, entre os candidatos, que as facções em disputa na sucessão deveriam afunilar as candidaturas de cada grupo, de forma que a Articulação tivesse em quem concentrar suas forças, os Independentes, em maior número, também, a esquerda tivesse o seu, e assim por diante. Como os líderes do governo e do partido, constantes do elenco, não poderiam sair da campanha, pois embora não tenham apoio nos demais partidos, o têm na bancada do PT, Arlindo Chinaglia e Professor Luizinho ficaram. Seguia animada a arrumação quando começaram as aplicações de rasteiras, os vetos e as ordens inexplicáveis emanadas da direção partidária. Lula, José Dirceu, José Genoino, vetaram nomes. O presidente do partido determinou, não se sabe por qual razão, uma vez que as campanhas mal começaram, que fosse feita uma reunião, ontem, às 14 horas, para selecionar quatro nomes, e ontem ainda, à noite, a bancada deveria selecionar dois nomes, que, em reunião, hoje, seriam finalmente um: o candidato da bancada à presidência da Câmara.

Um partido à procura do que é mais difícil

Em nenhum momento o partido tratou de seu projeto para conduzir a presidência, da relação do Congresso com o governo, manchada por muita interferência na Legislatura que se encerra, ou de como resgatar o poder de legislar da Câmara e do Senado que têm seu trabalho obstruído pelo excesso de medidas provisórias. Os partidos de oposição assistiram, nas últimas duas semanas, em estado febril, a este desencontro petista. Vêem a possibilidade real de lançarem um candidato em plenário e lograrem êxito, como já aconteceu outras vezes. Desde ontem, resgataram-se, para efeitos didáticos, duas experiências exemplares em matéria de risco para o partido majoritário que não sabe escolher seu candidato, na disputa da presidência. Numa delas, o candidato do governo era o Odacir Klein (PMDB), o baixo clero (massa de parlamentares sem expressão) lançou Inocêncio Oliveira (PFL), que venceu. Mais recente, o candidato apoiado pelo governo era Inocêncio Oliveira (PFL), Aécio Neves (PSDB) lançou-se como candidato avulso, em plenário, e ganhou. A grande novidade agora é que pode estar sendo gestado um candidato avulso não apenas da oposição, como também do próprio PT. Este lançamento depende da aprovação ou desaprovação ao nome escolhido pela bancada, e é claro que haverá um movimento da direção por sua expulsão do partido caso venha mesmo a se lançar à revelia das decisões de cúpula. Como, teoricamente, o candidato avulso tem muita chance de sucesso, a conferir mais à frente se o PT vai mesmo expulsar o presidente da Câmara.