Título: Programa de Lula terá previsão de mais crescimento e menos juros
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Política, p. A11

Marlene Bergamo/Folha Imagem Marilena Chauí chegando ontem em encontro do presidente com intelectuais: "Lula enfrentou a crise com serenidade" Um crescimento superior a 5% com diminuição da taxa de juros será o caminho para resolver o déficit fiscal e equilibrar a situação cambial.

É este o objetivo do programa para o eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

O programa será dividido em três partes. A primeira delas vai apresentar as realizações dos quatro anos do governo Lula e as dificuldades encontradas. Nesta parte dirão que foi necessária uma correção de rumos e que, apesar disso, houve resultados 'tangíveis' nos planos econômico, social e energético visando o crescimento.

Uma epígrafe do presidente dirá que as características fundamentais do segundo mandato serão crescimento com distribuição de renda e educação.

Na segunda parte do programa que terá, ao todo, 38 páginas, serão estabelecidos os compromissos não apenas em relação a esses dois fundamentos mas também em relação à segurança pública, redução da vulnerabilidade externa e integração soberana do Brasil no mundo.

A terceira parte vai mostrar como o governo Lula vai alcançar esses objetivos. "A essência é o crescimento", resumiu Garcia.

O assessor especial da Presidência participou ontem, ao lado dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Celso Amorim (Relações Internacionais), Tarso Genro (Coordenação Política) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), do encontro do presidente candidato com intelectuais em São Paulo.

Participaram do encontro Ruy Ohtake, Ariano Suassuna, Marilena Chauí, Frei Betto, Ferrez, Maria Rita Kehl, Luiz Felipe Alencastro, Bernardo Kucinski, Marcio Pochmann, Paulo Nogueira Batista Jr., Luiz Alberto Gomes da Silva, Luiz Felipe de Alencastro, Paulo Lins, Sonia Fleury, Arthur José Poerner e o economista Paul Singer.

Para Ariano Suassuna, o governo Lula está no 'caminho certo', e só precisa aprofundar alguns programas. "É uma injustiça acusar o Lula de assistencialista por causa do Bolsa Família. É um programa necessário e indispensável porque beneficia as pessoas que vivem na linha da miséria", disse. Em sua opinião. "Lula não roubou porque é um homem honrado e nunca ultrapassou os limites da ética".

Lembrou que quando foi secretário de cultura do governo Miguel Arraes, em Pernambuco, também descobriu irregularidades e demitiu os responsáveis.

Fez uma comparação entre o Lula e Getúlio Vargas. Disse que Getúlio também resistiu aos escândalos mas Lula não vai dar um tiro no peito porque é um homem que tem paciência e é um homem do povo.

Frei Betto disse ter receio de que Lula, num eventual segundo mandato, por causa da crise ética, não tenha condições de fazer um governo realmente popular. "O PT não deverá fazer uma grande bancada e, sem respaldo no Congresso, Lula não conseguirá fazer grandes reformas. Por isso precisará contar com os movimentos sociais. Lula é o único governante que tem duas pernas de governabilidade - do Congresso e dos movimentos sociais. Neste primeiro mandato, esta última perna não foi considerada", disse o religioso. "Os movimentos sociais continuarão com apoio crítico ao governo Lula. Vão votar nele porque entre todos é o que tem mais condições de governar para o povo".

A crítica mais dura que ouviu foi do economista Paulo Nogueira Batista Jr, da Fundação Getulio Vargas. Fez duras críticas à política econômica, à valorização cambial e ao spread bancário. "Com a troca do Palocci pelo Guido Mantega pouco mudou. Tem que trocar o comando do Banco Central. Espero que no próximo mandato o sr. governe com menos jogadores do campo adversário", disse.

Marilena Chauí atribuiu parte da crise por preconceito de classe. Elogiou Lula por ter enfrentado a crise 'com serenidade'.

Ferrez fez um dos depoimentos mais emocionados: "Não quero que o Brasil tenha o mar de sangue que São Paulo tem hoje". O presidente começou a falar às 21h, depois do fechamento desta edição.