Título: Aliados já discutem base parlamentar
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Política, p. A11

O conselho político da campanha pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, ontem, em reunião com o candidato, um esforço dos partidos aliados para eleger o maior número de deputados e senadores nas eleições de outubro para solidificar a base de apoio ao governo. Pelos cálculos do conselho, o PT espera eleger entre 80 e 90 deputados e o PSB, algo próximo dos 40 parlamentares. "Se o PMDB aumentar sua bancada, melhor para nós. Eu não quero é que aumente o PSDB e o PFL", afirmou o presidente em exercício do PSB, Roberto Amaral (RJ).

Amaral afirmou que o próprio presidente Lula participará deste processo de aumento das bancadas aliadas e que caberá a cada partido cuidar de sua guerrinha. "Ele (Lula) está mostrando a necessidade de que, quem está votando nele, está de acordo com seu governo e quer que ele permaneça mais quatro anos eleja uma base, vote nos candidatos dos partidos que apóiam o governo", acrescentou.

Hoje, em São Paulo, o comando da campanha e o candidato apresentam o programa de governo de Lula à reeleição. Lula examinou ontem à noite o texto final, cujo lançamento está marcado para o meio-dia, no Hotel Blue Tree Convention. O documento contém as linhas gerais de um eventual segundo mandato do petista: inclusão social, desenvolvimento, educação, ampliação da democracia, reforma política e segurança. Como adiantou o Valor na edição de ontem, esse texto não deve conter números e metas, apesar de ser consenso no governo a necessidade de um crescimento de cerca de 6% do PIB, o aumento no volume de investimentos e a manutenção das metas de superávit primário em 4,25% e do regime de metas de inflação.

Esses pontos deverão constar de cadernos temáticos, que ainda estão em fase final de elaboração pelas diversas comissões suprapartidárias e que poderão ou não ser anunciados ainda hoje. Escalado como porta-voz do conselho político da campanha, Amaral provocou confusão ontem ao declarar que o programa de governo iria conter a redução do superávit primário. Assessores que acompanharam a elaboração do documento correram para desmentir o anúncio. Horas depois, o próprio Amaral afirmou que tinha se confundido e que a sugestão de redução do superávit primário para garantir mais recursos para investimentos era uma idéia do PSB.

Os petistas que participaram da elaboração do programa também negaram que haja, por enquanto, qualquer discussão ou intenção de se incluir no programa de governo de Lula propostas para controlar a imprensa escrita, e, por intermédio de conselhos populares, controlar as concessões de rádio e televisão, além de estabelecer estratégias para fortalecer revistas e jornais independentes. Estas questões, conforme publicado ontem na "Folha de S. Paulo" constam de um estudo elaborado pelo PT. Assessores do partido e do Planalto confirmaram que existem setores no PT, inclusive dentro do Planalto, que carregam uma mágoa profunda da imprensa e que essas idéias são levantadas por grupos "pontuais". Mas acham difícil que a idéia prospere. "O presidente Lula defende a liberdade de imprensa", assegurou um assessor do Planalto.

Porta-voz do PT na relação com os veículos estrangeiros, o jornalista Giancarlo Summa também afirmou que não há qualquer discussão na coordenação de campanha sobre a estratégia de, em um eventual segundo mandato, esfriar a relação com a imprensa. Em matéria no jornal "Washington Post", Summa afirmou que o silêncio de Lula nos primeiros quatro anos de mandatos é conseqüência de uma relação tumultuada entre o governo e a imprensa: "Essa relação é conflituosa em qualquer parte do mundo".

Ele afirma, contudo, que no caso do Brasil, a imprensa, sobretudo a escrita, tem sido mais ácida com o governo Lula do que foi com o governo FHC. Ontem, diante da repercussão de suas informações ao "Post", Summa apressou-se a afirmar que "não há qualquer debate no governo ou na campanha sobre a relação com a imprensa em um eventual segundo mandato de Lula".