Título: Ásia cresce, mas situação do trabalho não melhora
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2006, Política, p. A12

A Ásia, impulsionada por China e Índia, assumiu a liderança no crescimento da economia mundial, com a expansão mais rápida do planeta. A produção mais do que dobrou desde 1995 e a produtividade cresceu 41%, quase duas vezes a média mundial. Entretanto a Organização Internacional do Trabalho (OIT) diz que a expansão econômica tem sido incapaz de criar novos postos para inverter a curva de desemprego e de melhorar as condições de trabalho na maioria dos países da região.

O setor informal é responsável por cerca de 65% dos empregos, sem proteção social. O fosso entre crescimento econômico e a criação de empregos gera enorme "déficit de trabalho decente" e freia esforços para reduzir a pobreza. Apesar de significativa redução no número de pobres, 1 bilhão de pessoas sobrevivem com US$ 2 por dia, criando "tensões" que exigem atenção.

O aumento impressionante da produtividade do trabalho na Ásia entre 1995 e 2000 não foi seguido nem de perto pelos salários. Na China, o ganho de produtividade foi de 6,3% ao ano em média, mas o dinheiro no bolso dos assalariados cresceu bem menos. Na Índia, houve baixa de salários, apesar da alta produtividade, significando deterioração do poder de compra dos trabalhadores justo quando sua eficácia no emprego aumenta.

Os ganhos de produtividade tambem não reduziram o tempo de trabalho. Os seis países campeões do mundo em horas anuais trabalhadas estão todos na Ásia: Bangladesh, Hong Kong (território chinês), Malásia, Coréia do Sul, Sri Lanka e Tailândia, onde boa parte da população trabalha mais de 50 horas por semana.

O trabalho infantil declinou, mas a região ainda conta 122 milhões de criancas em atividades produtivas, representando 64% do total mundial. Tambem a segurança e saúde dos trabalhadores não melhoraram: cerca de 1 milhão de empregados morrem anualmente na Ásia por causa de acidentes de trabalho ou doenças profissionais. A Aids avança, inclusive na China.

A Ásia é também a região com a menor ratificação de convenções internacionais do trabalho, incluindo direito de associação. A OIT diz que os próximos dez anos serão críticos, quando 250 milhões de novos trabalhadores estarão em busca de emprego na Ásia.