Título: Empresas captam R$ 75 bi no ano
Autor: Vieira, Catherine e Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Finanças, p. C1

Mesmo com a retração da liquidez, que vem prejudicando as bolsas do mundo todo desde maio, o mercado de capitais brasileiro não dá sinais de arrefecimento e já chega, apenas na metade do ano, a um novo recorde histórico. Computados todos os instrumentos disponíveis (ações, debêntures, recebíveis etc), as empresas já captaram R$ 74,65 bilhões até o fim de julho, de acordo com os dados de ofertas públicas registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Até aqui, 2005 detinha o melhor resultado, com R$ 71,4 bilhões em ofertas registradas, valor que já era mais do que o dobro do melhor ano até então, que havia sido 2000, com R$ 31, 2 bilhões.

As debêntures foram até agora o principal instrumento utilizado e responderam pela captação de R$ 44,2 bilhões, valor que já supera todo ano passado, que havia sido de R$ 41 bilhões. As emissões de ações também estão mais aquecidas que nunca. Elas já somam R$ 21 bilhões, um recorde absoluto tanto em volume quanto em número de ofertas. Outro aspecto importante é que este ano, as ofertas primárias, ou seja, de novas ações, foram mais volumosas que as secundárias (de ações já existentes), ao contrário do que ocorreu em 2005. Nos últimos meses, no entanto, com o menor apetite do investidor estrangeiro, houve uma redução no ritmo de ofertas de ações, com muitas empresas adiando ou suspendendo suas operações. Este mês, o mercado acionário voltou a ter operações. Empresas como MMX Mineração e Cyrela e Abyara, ambas do setor imobiliários, emitiram ações.

O presidente da CVM, Marcelo Trindade, comemora o fato de o recorde de operações no mercado de capitais estar ocorrendo sem mecanismos artificiais de incentivo, como ocorreu em outros momentos da história das emissões domésticas. "Os números confirmam que o crescimento do mercado de capitais como forma de financiamento às empresas veio para ficar", disse. Para Trindade, a recente crise que atingiu os mercados acabou sendo positiva. "Funcionou como um teste e mostrou que agora nós podemos enfrentar crises de forma mais natural e que quando a janela se fecha o ritmo pode até se reduzir, mas o mercado não pára".

A depender das ofertas que estão hoje em análise na CVM, as ações devem ser o destaque do segundo semestre. São cerca de 15 as empresas que ainda aguardam a aprovação da autarquia para realizar ofertas públicas no mercado de ações. Pela estimativa da área técnica da CVM, os valores captados podem chegar a cerca de R$ 13 bilhões.

Nos cálculos de Luiz Fernando Resende, responsável pela área de mercado de capitais da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), entre 10 e 15 operações de ações devem ser feitas este semestre. Na renda fixa, ele prevê um volume de operações entre 20% e 30% maior. Segundo ele, alguns fatores estão levando grandes empresas a trocar operações no mercado externo por emissões locais, entre eles o aumento dos prazos e a queda das taxas aqui.

A AmBev, que está emitindo R$ 2 bilhões em debêntures, conseguiu um custo menor que o representado pela sua última emissão externa "swapada" para real. A empresa pagará 101,75% do CDI na série de três anos e 102,5% na série de seis anos. Os papéis foram todos vendidos e a demanda foi pulverizada, informaram fontes próximas à operação.

Levantamento da Anbid mostra que até recentemente as repactuações das emissões de debêntures ocorriam um ano após a emissão. Nas últimas emissões, a repactuação está ocorrendo após os primeiros cinco anos. "Longo prazo no Brasil antes era um ano", ressalta Alfredo Moraes, presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima).

Para Marcos De Callis, vice-presidente da Itaú Corretora, os investidores já começam a dar sinais de que os temores com o cenário externo podem estar se dissipando. "Com isso, as perspectivas melhoram para as captações", diz. A queda do juro também ajuda: "Os múltiplos das empresas ficam mais interessantes", diz.

(Colaborou Tatiana Bautzer, de São Paulo)