Título: Rali nos emergentes deverá se manter por no mínimo um mês
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Finanças, p. C2

A mudança na expectativa do mercado com relação aos juros básicos nos Estados Unidos abre uma janela de oportunidade para mercados emergentes, beneficia as captações externas brasileiras e amplia a valorização do real, no entender de bancos de investimento. O otimismo veio para ficar: deverá se manter no mínimo por mais um mês, segundo o Barclays Capital, a Lehman Brothers e a Merrill Lynch.

O rali ganhou corpo no dia 19 de julho, quando Ben Bernanke, presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), disse ao Senado que a economia americana cresce em um ritmo moderado. O mercado interpretou as declarações como uma indicação de que os juros básicos não precisam subir mais nos Estados Unidos.

Na sexta-feira, os números do Produto Interno Bruto americano ajudaram, pois o crescimento econômico no país foi menor do que o esperado. O rali dos mercados emergentes se ampliou, beneficiando a emissão do Friboi, que foi ampliada de US$ 200 milhões para US$ 300 milhões. O risco-Brasil despencou, ficando ontem a 222 pontos básicos, apenas 13 pontos básicos acima de seu ponto mínimo na história, de 209 pontos básicos, no dia 1º de março. Com relação aos 289 pontos básicos do dia 24 de março, já caiu 23%.

"Uma correção iminente não é provável: as posições estão mais claras, e deverá demorar um tempo para que o bom humor com o Fed acabe", dizem os analistas do Barclays Capital. Eles acreditam que o mercado está otimista demais, mas apostam que uma mudança de percepção não vai acontecer antes do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, na primeira segunda-feira de setembro. O terceiro trimestre do ano deverá ser forte como o primeiro para mercados emergentes, enquanto o último trimestre poderá ser tão fraco quando o segundo, apostam.

"Nós vemos uma janela de oportunidade com a aproximação do fim do ciclo de aperto monetário do Fed, a melhoria das posições técnicas do mercado e o fim da temporada de verão", diz relatório da Merrill Lynch. "A janela, no entanto, deve provavelmente ser temporária, até que os sinais de um aperto na liquidez internacionais reapareçam, no final do terceiro trimestre ou início do quatro", diz o banco, que prevê que a volatilidade vai continuar alta. Em relatório divulgado ontem, os analistas da Merrill Lynch propõem manter as mesmas posições em caixa no que diz respeito aos mercados emergentes, mas sugerem um aumento do prazo médio da carteira e do risco na seleção de ativos. Sugerem também comprar a moeda brasileira contra o dólar para ganhar com os juros em reais.

"Apesar dos prêmios de risco apertados, nós prevemos que os mercados emergentes poderão ter mais um rali", avalia a Lehman Brothers. "Os fundos de hedge e investidores do 'real money' vão provavelmente rever suas posições em busca de maiores retornos nos próximos meses", aposta. Os ganhos de ficar comprado em reais contra o dólar são altos o suficiente para justificar os maiores riscos com a volatilidade crescente, diz.

A proximidade das eleições presidenciais brasileiras não preocupam. Na visão de John Welch, analista da Lehman Brothers, as perspectivas para que o Brasil reduza os gastos públicos nos próximos quatro anos parecem "razoavelmente boas", quer o vitorioso seja Lula ou Alckmin.