Título: Mercado espera alta inferior a 3,5% para PIB no próximo ano
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2011, Brasil, p. A4

Pela primeira vez no ano, as projeções dos analistas de mercados, divulgadas pelo Boletim Focus, indicam que a economia brasileira crescerá abaixo de 3,5% em 2012. A mediana das expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem recuou para 3,46%, após passar o mês de novembro em 3,5%. Para 2011, as projeções colhidas pelo Banco Central foram novamente revisadas para baixo, de 3,16% para 3,10%.

Segundo economistas consultados pelo Valor, ainda há espaço para que as estimativas de crescimento fiquem mais baixas, já que a perda de fôlego da economia doméstica, mais acentuada na segunda metade de 2011, fará com que a atividade comece 2012 em marcha lenta, ritmo que não terá aceleração significativa ao longo do ano, mesmo com o ciclo de afrouxamento monetário à vista.

"Até pouco tempo atrás falava-se que o PIB mundial iria crescer algo em torno de 4% a 4,5%. Hoje as estimativas estão mais próximas de 3,5%. Isso acaba se revelando em menos crescimento para o Brasil", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, que prevê alta de 3,1% no PIB do ano que vem.

Borges explica que o impacto negativo do exterior não aparece apenas nas exportações, que crescem menos, mas também via redução do crédito, já que as empresas sentem dificuldade em captar no exterior. "Isso significa menos dinheiro para emprestar."

Para o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, que estima crescimento de 3% do PIB neste ano e em 2012, "a Selic deve cair para 9% ou 9,5% até o meio do ano que vem, mas isso só servirá para impedir que o crescimento seja menor do que 3%. O Banco Central não reduzirá os juros abaixo de 9% sob pena de haver pressões inflacionárias".

Na sua opinião, o ciclo de afrouxamento monetário, a reversão de parte das medidas macroprudenciais e o aumento de 14% do salário mínimo em janeiro não impedirão que a massa de rendimentos tenha uma evolução lenta no ano que vem, o que afetará o consumo.

"Teremos uma discrepância na correção de salários. O reajuste do mínimo será importante, mas nas demais esferas, como indústria e serviços, a majoração de salários vai acompanhar a dinâmica de esfriamento do mercado", avalia Silveira. Os investimentos, que já estão perdendo fôlego, serão outro fator de desaceleração da economia em 2012, diz ele, porque algumas indústrias já estão com capacidade de produção ociosa, o que adia projetos de investimentos.

O economista-chefe da corretora Concórdia, Flávio Combat, destaca o papel negativo da economia internacional para o menor ímpeto da atividade brasileira, que deve crescer 3,1% em 2011 e 3,4% em 2012. Ele pondera, no entanto, que sua projeção para o ano que vem está "um tanto otimista".

"Caso a Europa entre em recessão, o governo pode usar seu arsenal para melhorar o desempenho da economia e trazer o PIB para os 3,5%", diz Combat. De acordo com ele, os estímulos podem vir por meio da liberação dos compulsórios, da isenção de impostos e da criação ou ampliação de linhas especiais de crédito pelo BNDES.

O analista da Concórdia projeta que o BC vai cortar a Selic até 10% no ano que vem. "Existem fontes importantes de pressão inflacionária. Uma delas é o mercado de trabalho, que deve seguir forte no ano que vem. O governo não pode abrir mão da preocupação com os preços." A taxa de desemprego, atualmente em 5,8%, deve aumentar para algo em torno de 6,3% em 2012, diz Combat, nível ainda considerado baixo e que, portanto, deve seguir pressionando a inflação.