Título: Brasil faz 2% do lucro global do HSBC
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Finanças, p. C8

O Brasil contribuiu com 2% do lucro antes dos impostos do primeiro semestre do HSBC Bank no mundo todo e com 75% dos resultados na América do Sul.

De acordo com os dados divulgados ontem, as operações do HSBC no Brasil tiveram um lucro bruto de US$ 251 milhões no primeiro semestre, 36% a mais do que os US$ 185 milhões em igual período de 2005. O resultado global do grupo antes dos impostos ficou em US$ 12,517 bilhões, com crescimento de 17,6% e, na América Latina, US$ 334 milhões, com queda de 2%. No primeiro semestre de 2005, o Brasil havia contribuído com 1,7% do resultado global.

Em teleconferência a jornalistas das Américas, o principal executivo do grupo, Michael Geoghegan, disse estar "satisfeito com o crescimento dos negócios e o reconhecimento da marca" no Brasil, mercado com o qual possui especial ligação. Geoghegan fincou as raízes do HSBC Bank Brasil ao adquirir o Bamerindus, em 1997, e presidiu a instituição até 2003. Geoghegan disse que "houve uma turbulência com a qualidade do crédito", sentida por todos os bancos no Brasil. "O HSBC não foi uma exceção", especialmente tendo em vista o crescimento da carteira. Mas, acrescentou, o problema está sob controle e foi neutralizado por uma mudança no perfil do crédito, com maior ênfase no crédito consignado, cujo risco é praticamente nulo.

O alto executivo também ressaltou que o HSBC está tirando proveito das relações com 21 mil varejistas que trouxe a Losango para aumentar os negócios e as vendas cruzadas. A Losango, braço de financiamento ao consumo, foi adquirida em 2003. A Losango acaba de divulgar acordo de cartão private label com a rede Ricardo Eletro e tem dez outros contratos saindo do forno provavelmente neste semestre.

Nem mesmo a incerteza habitual de um período pré-eleitoral como o que o país começa a atravessar influi nos planos do HSBC. Segundo Geoghegan, momentos desse tipo são sempre muito "interessantes"; e aproveitou para renovar o "compromisso de longo prazo" com o Brasil.

No balanço global do HSBC - o balanço local em reais ainda será divulgado no futuro -, há a informação de que os créditos em atraso cresceram em relação à carteira total de 8,6% para 9,7% no Brasil. Isso provocou um aumento de 21% nas provisões para devedores duvidosos para US$ 321 milhões. Além das providências detalhadas por Geoghegan, houve maior rigor dos critérios de concessão de crédito e aperfeiçoamento das análises.

Em consequência da nova política, a carteira de crédito consignado saltou 72% para US$ 216 milhões; e o financiamento de veículos, 35% para US$ 1,7 bilhão. A carteira total de crédito cresceu 28,6% para US$ 10,4 bilhões. No primeiro semestre, foram emitidos 800 mil cartões, 46% a mais do que em igual período de 2005, levando a carteira a 2,6 milhões de plásticos.

Referindo-se aos projetos de expansão nas Américas, Geoghegan várias vezes falou que a opção é pelo crescimento orgânico. Mas, no início do mês, adquiriu um dos bancos líderes na América Central, o Banistimo, que lhe deu posições relevantes no Panamá, Costa Rica, Honduras, Colômbia, Nicarágua e El Salvador.

Em parte por influência dessa nova posição, o HSBC também anunciou a reorganização das operações nas Américas, cujo impacto no Brasil ainda deve ser avaliado. As mudanças entram em vigor em 1 º de outubro.

O grupo criou uma nova divisão, englobando América Latina e Caribe, sob o comando do presidente das operações no México, Sandy Flockhart. Antes, o México fazia parte da divisão da América do Norte; e havia uma divisão para América Sul, comandada por Youssef Nasr, a partir de São Paulo, que também era presidente das operações brasileiras. Agora, Emilson Alonso concentrará os cargos de principal executivo e presidente do HSBC Bank Brasil. Nasr vai comandar, em Nova York, a recém-criada área de investimentos estratégicos.

O futuro mostrará como essas mudanças repercutirão, na prática, no Brasil.