Título: Dilma fará reforma no recesso para reduzir atritos com aliados
Autor: Exman ,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2011, Política, p. A10

Numa estratégia para evitar eventuais retaliações no Congresso por parte dos partidos governistas, a presidente Dilma Rousseff sinalizou a auxiliares e aliados que pretende aproveitar o recesso parlamentar para promover a reforma ministerial. Dilma deve realizar em janeiro as mudanças em sua equipe.

Fontes do governo dizem que Dilma estuda reduzir o número de ministérios e a influência histórica de partidos sobre algumas áreas do Executivo. Além de ser um instrumento para tentar frear irregularidades, acredita o Palácio do Planalto, a reforma pode ajudar a equilibrar as forças políticas que integram a coalizão governista. Na avaliação de auxiliares da presidente, alguns partidos têm uma representação no governo maior do que o seu peso no Parlamento.

"Fazer a reforma ministerial no recesso ajuda, porque ela [Dilma] pode chamar qualquer um para conversar sem pressão. Dá para individualizar melhor as conversas", explicou o líder de um partido da base aliada.

A prioridade do governo no Congresso até o fim do ano é a aprovação da proposta de emenda à Constituição que prorroga até dezembro de 2015 a Desvinculação de Receitas da União (DRU). Dilma chegou inclusive a sugerir que o risco de a votação da proposta do Orçamento de 2012 ficar para o início do ano não a preocupa, pois acredita que não teria problemas para executar os programas prioritários do governo sem a aprovação da lei orçamentária durante esse período.

Atualmente, Dilma conta com 38 ministros. A presidente já indicou que pretende unificar as secretarias de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Políticas para Mulheres. A operação será de difícil execução. As três secretarias, que têm status de ministério, acomodam representantes dos movimentos sociais e ajudam a equilibrar a participação das diversas alas do PT no governo. A presidente cogita ainda reintegrar ao Ministério dos Transportes a Secretaria de Portos, hoje nas mãos do PSB.

Conversas formais sobre a reforma ministerial entre o PMDB e Dilma ainda não começaram, mas o partido do vice-presidente Michel Temer gostaria de aproveitar a oportunidade para se posicionar melhor no governo. Para os pemedebistas, o partido comanda ministérios com pouca capilaridade e poder político para impulsionar a sigla nas próximas eleições.

O PMDB está à frente de cinco ministérios: Agricultura, Turismo, Minas e Energia, Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência e Previdência Social. Reclama, porém, do fato de os principais órgãos executivos dos ministérios da Agricultura e do Turismo estarem sob o comando de outros partidos. A Embratur, por exemplo, é presidida pelo ex-deputado Flávio Dino (PCdoB). Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é controlada pelo PTB.

O PT, por sua vez, está de olho no Ministério do Trabalho. A Pasta é chefiada por Carlos Lupi, do PDT, que enfrenta uma série de denúncias de irregularidades. A imprensa vem publicando nas últimas semanas reportagens apontando supostas irregularidades nas relações entre o ministério, organizações não governamentais e sindicatos.

O Planalto também tenta atrair o PSD para a base aliada, aproveitando a reforma ministerial para abrir um lugar na Esplanada dos Ministérios ao recém-criado partido. Mas a sigla do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, até agora demonstra a intenção de continuar com uma postura de independência em relação ao governo federal. No Palácio do Planalto, os votos do PSD foram importantes para que a aprovação pela Câmara da proposta de emenda constitucional que prorroga a DRU ocorresse com uma maior tranquilidade. O PSD conta com uma bancada de 48 deputados e dois senadores.