Título: Tire proveito da turbulência
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Eu & Investimentos, p. D1

Agosto começa com os investidores ainda mais voltados para os acontecimento no cenário internacional. Mas, desta vez, as perspectivas são bem mais otimistas do que nos últimos meses. As atenções devem se voltar para os rumos da economia dos EUA e da política de juros do Banco Central americano (Fed), que se reúne na semana que vem. Mas a expectativa do mercado é de que o processo de alta do juros americanos, hoje de 5,25% ao ano, esteja no fim, o que beneficiaria a bolsa brasileira. Outra variável externa importante é o preço do petróleo e a crise no Oriente Médio. No âmbito interno, o destaque fica por conta da taxa de juros, hoje em 14,75% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 29 e 30 deste mês.

O conflito entre Israel e o grupo Hezbollah influenciou não apenas o preço do petróleo como também o valor do ouro. Na busca por proteção, os investidores correram rumo ao porto seguro do metal, que encerrou julho como o ativo mais rentável em reais, com valorização de 3,49%. No ano, o metal sobe 15,28% em reais. Além da busca por proteção, o ouro também foi beneficiado pela alta das commodities em geral, lembra Júlio Cardozo, administrador de carteiras do Banco BVA. O investidor interessado em aplicar em ouro pode comprar um contrato relativo a 250 gramas na BM&F, mas é preciso ter apetite para volatilidade.

O início do conflito no Oriente Médio trouxe muita volatilidade aos preços do petróleo e criou o temor de uma maior escalada da guerra na região envolvendo outros países, lembra o consultor Fabio Colombo. "Todas as bolsas mundiais oscilaram muito durante o mês, sem direção clara, embora tenham reagido no fim do mês."

O Índice Bovespa acumulou alta de 1,22% em julho, mas alguns papéis tiveram ganho muito maior, caso da Petrobras PN, que subiu 3,98% no mês e 24,06% no ano. Com isso, os fundos de privatização acumulavam 2,22% no mês e, no ano, 21,79% até dia 26, sem contar os ganhos de quinta-feira, sexta e de ontem. As ações PNA da Vale do Rio Doce caíram 1,77% em julho, o que reduziu seu ganho para 4,71% no ano. Assim, os fundos da Vale acumulavam perda de 4,51% no mês até dia 26 e 3,42% no ano. O dólar registrou ganhos tímidos de 0,46%, enquanto o CDI, referencial dos juros, acumulou 1,17%. O retorno com a bolsa em julho foi baixo comparado ao custo de oportunidade dos juros, diz Cardozo.

Para ele, no entanto, a bolsa brasileira continua barata frente a outros mercados. Pelos cálculos do executivo, o Ibovespa tem uma relação Preço/Lucro - indicador que dá uma idéia do prazo para retorno do investimento - de 10,7 anos. Já o Dow Jones tem um P/L de 21 anos e o Índice Standard & Poor's, de 17. O mesmo indicador da Nasdaq é de 46 anos e P/L do principal referencial da bolsa da Rússia está acima de 11. Apesar dos bons números, Cardozo acredita que o mercado brasileiro ainda deve sofrer os reflexos das bolsas mundiais. Vai demorar para a bolsa brasileira retomar a forte trajetória de alta, diz.

As ações da Petrobras estão entre as preferidas dos gestores. A percepção é a de que, mesmo que as cotações do petróleo em Londres e Nova York não se perpetuem no atual nível, os papéis da estatal têm como capturar ganhos não só pelas tensões externas como também pelo aumento da produção. Com a alta do petróleo e o aumento de produção, as perspectivas para a empresa são bem favoráveis, avalia Ricardo Junqueira, sócio da Ático Asset Management. Também estão no foco ações de consumo, que devem ser beneficiadas pelo crescimento econômico e aumento da renda, e os papéis de bancos.

O maior otimismo do mercado em agosto em relação aos meses anteriores se deve ao fato de que o Fed indicou que a instituição poderá fazer uma pausa nas elevações do juro básico para que a economia possa ajustar seu ritmo. Alguns analistas acreditam que pode haver mais uma elevação de 0,25 ponto percentual da taxa. Outros acham que a parada na trajetória de alta já pode acontecer agora. Se, no entanto, o Fed sinalizar que poderá mais para frente aumentar os juros, a bolsa deve voltar a apresentar fortes oscilações, diz Cardozo, do BVA.

Com relação ao dólar, o Banco Central deve continuar recompondo suas reservas internacionais, dando sustentação à moeda americana no Brasil. Mas os analistas não acreditam numa alta da moeda americana, mesmo com as eleições mais próximas. O momento é de apostar na alta do real, avalia Eduardo de Carvalho Moreira, gestor de renda fixa da Opportunity Asset Management. O problema é que, por sua própria conta e risco, o pequeno investidor não tem muito o que fazer para aproveitar a oportunidade. O executivo lembra, entretanto, que há alternativas que capturam os movimento do câmbio, como os multimercados.

Além de o BC continuar a aumentar as reservas, os números do balanço de pagamento devem se manter favoráveis. Isso contribuiu para que o dólar continue em níveis baixos e estáveis, avalia Junqueira, da Ático. Mesmo com a época de eleições, a entrada de recursos continua alta, lembra.