Título: Quadro fiscal piora e Londres pode ampliar austeridade
Autor: Giles ,Chris
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2011, Internacional, p. A12

O ministro das Finanças britânico, George Osborne, vai expor hoje o seu plano de crescimento, ao mesmo tempo em que o órgão de vigilância fiscal adverte que o Reino Unido deve esperar uma expansão significativamente menor para os próximos anos.

É essa tensão, decorrente de um crescimento da produtividade extremamente fraco desde 2009, que está no cerne das exasperantes previsões econômicas já apresentadas ao Tesouro. Os números são tão ruins, dizem as pessoas familiarizadas com eles, que o programa de redução do déficit do país está agora seriamente ameaçado.

Os sinais de que alguma coisa estava errada surgiram em setembro, quando o "Financial Times" reproduziu a metodologia do Departamento de Responsabilidade Orçamentária (OBR, na sigla em inglês) para mostrar um rombo extra de 12 bilhões de libras nas contas públicas. Desde então, as perspectivas se deterioraram.

Robert Chote, diretor do departamento, insinuou a mudança do quadro em setembro, ao dizer que o órgão de vigilância orçamentária estava inclinado de rever seu pressuposto de que a produtividade potencial da economia poderia aumentar 2% ao ano já que "a produção por hora cresceu mais lentamente que isso e mais lentamente do que nas últimas recuperações".

A importância dessa afirmação foi enorme. Se o OBR pressupõe um crescimento potencial menor, a recuperação e o saneamento das contas públicas serão muito mais difíceis. Outros órgãos internacionais especializados em previsões, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), também rebaixaram suas avaliações do potencial de crescimento no médio prazo.

Nos discursos que se seguiram, os ministros começaram a preparar a opinião pública para as más notícias. David Cameron advertiu as empresas de que "os altos níveis de endividamento público e privado estão se revelando um entrave ao crescimento, o que, por sua vez, torna mais difícil administrar essas dívidas".

Autoridades do Tesouro citam frequentemente Carmem Reinhart e Kenneth Rogoff, os acadêmicos americanos que documentaram crises financeiras e que detectaram que elas impõem danos duradouros às economias.

No fim de semana, Osborne insistiu: "O governo fará o que for preciso para cumprir sua meta fiscal... e mostrar ao mundo que o Reino Unido, com seu déficit público alto, pode se financiar".

Suas palavras são consideradas no Tesouro como um sinal de que a data em que será atingida a meta fiscal será postergada em dois anos, para 2016-17, e que será necessário mais austeridade para cumprir até mesmo essa meta.

Se o OBR partir do pressuposto que o potencial estrutural de crescimento da produtividade britânica corresponderá à sua taxa recente por mais dois anos, o déficit estrutural do governo será de aproximadamente 30 bilhões de libras por ano, pior do que se pensava em março, o que exigiria aumento de impostos ou corte de gastos públicos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para equilibrar as contas. O governo está optando por ampliar a austeridade no gasto público para além dos quatro anos considerados na reavaliação dos gastos para que as contas "fechem".

As previsões serão anunciadas um dia depois que a OCDE disse que o Reino Unido está tecnicamente numa recessão que provavelmente persistirá no primeiro trimestre de 2012 e o CBI, uma entidade patronal, disse que os varejistas estão cortando empregos ao ritmo mais rápido em dois anos.

A OCDE reduziu sua previsão de crescimento do PIB britânico em 2012 para 0,5%, abaixo da previsão de 1,8% feita em maio. O desemprego deverá aumentar ao longo de 2012 e chegar a 9% em 2013.

Ao anunciar sua previsão, a OCDE assumiu a incomum postura de pressupor a rápida intensificação do programa de compra de títulos do governo britânico pelo Banco da Inglaterra, denominado afrouxamento quantitativo - dos atuais 275 bilhões de libras para 400 bilhões de libras.

Mas a OCDE pediu ao Reino Unido que mantenha-se firme nos esforços para controlar sua posição fiscal, apesar da frenagem que isso representa sobre a economia, observando que a dívida bruta do governo provavelmente será de aproximadamente de 100% do PIB em torno de 2013.