Título: Cresce aposta em queda prolongada da taxa Selic
Autor: Bittencourt ,Angela
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2011, Finanças, p. C4

No dia em que começa a reunião do Comitê de Política Monetária que definirá o rumo da taxa Selic, a previsão de um corte de 0,5 ponto percentual nos juros lidera as apostas. Mas, de olho na inflação doméstica e no ambiente externo tenso e indefinido, analistas e tesourarias de bancos aumentam as fichas na previsão de um ciclo de corte mais prolongado da taxa. Tanto as taxas futuras de juros negociadas na BM&F quanto os economistas que mais acertam as previsões para o rumo da Selic na pesquisa Focus - os chamados Top 5 - trabalham agora com uma taxa de juro de 9,5% no ano que vem.

Até a semana passada, as instituições Top 5 projetavam taxa de 9,75% no médio prazo, enquanto o mercado futuro vinha indicando juros próximos a 10% para 2012.

Descontando desse juro nominal de 9,5% a inflação de médio prazo medida pelo IPCA também sinalizada pelo Top 5 - composto por outro time de instituições - o juro real brasileiro passou a rondar 3,80% e torna mais factível o "cenário Dilma", de juro real próximo a 2% até o fim de seu mandato.

Um dos fatores que está ajudando a abrir espaço para a queda dos juros futuros é a mudança na ponderação do IPCA e do INCC, a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo IBGE. A partir dessa mudança, analistas preveem agora uma inflação mais baixa em 2012. Essa nova estrutura de ponderação - que vinha sendo elaborada há meses, mas ainda não tinha data prevista para divulgação - entra em vigor em janeiro de 2012 e, segundo cálculos de economistas, pode levar à redução entre 0,20 ponto e 0,50 ponto percentual no IPCA do próximo ano. Ou seja, contribui para amenizar a preocupação com o rumo da inflação doméstica, em um momento em que a crise externa impõe um processo de alívio monetário.

Para a reunião desta semana, o que limita as apostas em um corte mais agressivo é a insistência do presidente e de diretores do Banco Central (BC) em sinalizar "ajustes moderados" da taxa Selic para a convergência da inflação para a meta em 2012. Assim, economistas seguem com suas projeções de corte de 0,50 ponto do juro amanhã, embora já admitam que uma redução mais intensa, de 0,75 ponto, não seria "surpreendente". "O viés é de um corte mais forte, porque a única certeza que se tem sobre a atual crise externa é que as coisas tendem a piorar antes de melhorar", afirma o economista-chefe do HSBC, André Loes. "O cenário não está muito diferente do que o BC havia traçado em agosto (quando iniciou o ciclo de alívio monetário), mas como há uma demora nas definições na Europa, pode ser que as consequências desse ambiente sejam mais fortes, o que é difícil de mensurar", afirma o economista, para quem a Selic deve cair de 0,5 ponto em 0,5 ponto até 10% ao ano, mesmo admitindo o risco de queda mais intensa.

Projeção da taxa Selic em 9,5% leva juro real para 3,80%, o menor nível do regime de metas de inflação

O Itaú Unibanco também está nessa corrente. Mantém projeção de corte de 0,50 ponto na Selic amanhã, mas vê a taxa a 9% em maio de 2012 por esperar dados nada alentadores para a economia brasileira neste fim de ano. A projeção do banco para o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre é de crescimento de 2% anualizados. O Itaú, assim como o HSBC, integrava o grupo Top 5 de outubro para a Selic de médio prazo da pesquisa Focus, divulgada pelo BC. Esse é o ranking disponível mais recente. As outras três instituições que integram o grupo de outubro são Franklin Templeton, na liderança, Petrobras e Deutsche Bank.

"Esperamos redução de 0,5 ponto amanhã, mas existe a possibilidade de o Copom acelerar os cortes no ano que vem. Por ora, trabalhamos com 9% em dezembro de 2012. Mas o viés é de baixa. A inflação ajustada pela nova metodologia divulgada pelo IBGE passa de 5,07% para 4,53% em 2012. Portanto, no centro da meta", explica o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, da Franklin Templeton Investimento Brasil, para quem a nova estrutura de ponderação dos índices reflete bem o novo perfil do consumidor brasileiro. "Estamos num momento peculiar. Com cenário externo de desaceleração e inflação convergindo para a meta. Além disso, as notícias para os preços agrícolas são positivas. Nossas pesquisas indicam que esses preços ficarão muito bem comportados em 2012. Portanto, mais favoráveis para a inflação perseguida pelo BC", diz o economista.

O grupo Top 5 de médio prazo reduziu a estimativa para a taxa Selic de 2012 a 9,50%, segundo a pesquisa Focus. Taxa que contempla, portanto, ciclo de baixa de 3 pontos percentuais a partir de agosto, quando o BC iniciou o alívio monetário. Os rankings de médio prazo consideram a precisão média das projeções de três períodos consecutivos de 4 meses em relação aos resultados efetivos de três meses que o antecedem. O grupo Top 5 médio prazo para IPCA em outubro é composto pelo líder Banco JBS, HSBC Asset Management, BB DTVM, BrasilPrev e Citibank. (Colaboraram Beatriz Cutait e Fernando Travaglini)