Título: Lula convoca e Palocci discute dívida com Serra
Autor: Henrique Gomes Batista e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2004, Política, p. A7

O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), foi recebido ontem em audiência, no Palácio do Planalto, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi a primeira vez que os dois se encontraram desde a campanha presidencial de 2002. Durante a conversa, Lula decidiu convocar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para também atender Serra, que assumirá a prefeitura paulistana no dia 1º, preocupado com a situação fiscal do município - R$ 7 bilhões da dívida da cidade terão que ser honrados em maio. O futuro prefeito e o presidente não trataram, segundo Serra, de questões específicas de São Paulo, como a dívida do município ou a situação das enchentes da cidade. As questões fiscais foram abordadas na conversa com o ministro Palocci, que ocorreu após a audiência concedida por Lula. "Foi um primeiro contato. O presidente nos recebeu muito bem e falamos de assuntos gerais sobre São Paulo e sobre o Brasil", disse Serra, acrescentando que Lula prometeu não discriminar a prefeitura paulistana. "O presidente assegurou que o governo federal tratará a cidade de São Paulo de acordo com o interesse público." Lula já havia recebido a maioria dos prefeitos eleitos das capitais. O clima do encontro com Serra, no entanto, teria sido muito mais formal, embora tenha transcorrido em clima cordial. O prefeito evitou, inclusive, convidar pessoalmente Lula para a sua posse. "O convite será encaminhado, não falei pessoalmente", disse ele, garantindo que será uma "satisfação muito grande" se o presidente comparecer. Serra afirmou que tem esperança de que ainda seja aprovada a margem de remanejamento, de 15%, do orçamento de 2005 da prefeitura. Essa era a proposta original da prefeitura, mas os vereadores ligados à prefeita Marta Suplicy (PT) diminuíram a margem de remanejamento para apenas 5% do orçamento. O prefeito eleito afirmou que seu partido não está em negociações com o PT para tornar a Câmara dos Vereadores mais "maleável" à administração tucana. Ele negou a negociação de um suposto acordo que garantiria margem de remanejamento maior à sua gestão, em troca de uma "blindagem" da administração petista da cidade. "Fiquei sabendo desse acordo pelos jornais e se houvesse eu saberia, pois se trata da minha equipe. Só estamos negociando dentro do interesse da cidade", sustentou. O deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) avisou ontem que a bancada tucana na Câmara dos Deputados atuará dentro do princípio da reciprocidade, ou seja, se os vereadores petistas começarem a dificultar a administração tucana na prefeitura, os deputados do PSDB poderão abandonar a postura de votar de forma favorável os projetos prioritários do governo Lula.