Título: Indústria planeja reajustar preços
Autor: Durão, Vera Saavedra e Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Brasil, p. A3

Leo Pinheiro/Valor Aloísio Campelo, da FGV: reação positiva em relação ao nível de emprego Os empresários brasileiros estão trabalhando com perspectivas favoráveis para o terceiro trimestre do ano, sinaliza a 160ª Sondagem da Indústria de Transformação, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada ontem. Entre as 925 empresas entrevistadas em julho pela pesquisa, 26% planejam criar novos empregos e 34% têm intenção de reajustar preços para recuperar margem. Do total das empresas, 46% apostam num aquecimento forte da demanda entre julho e setembro.

O clima de otimismo se reflete na programação de aumento da produção da parte de 49% das empresas consultadas pela FGV. O que poderá elevar mais o nível de atividade da indústria, que em julho alcançou nível médio de utilização da capacidade instalada de 84,9%, o maior para esta época do ano desde 1980. Com ajuste sazonal, o indicador atingiu 84,5%, contra 83,7% na pesquisa de abril.

De acordo com a sondagem, o prognóstico positivo dos empresários se estende por todo o segundo semestre, quando 54% das indústrias trabalham com um cenário de melhora da situação de negócios, considerada fraca até o mês passado.

Aloísio Campelo, coordenador das sondagens industriais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, achou bons os resultados da pesquisa, em relação à sondagem de abril, destacando a intenção das empresas de contratar novos postos de trabalho. Segundo ele, este resultado é muito favorável. "É a primeira reação positiva das empresas em relação ao emprego desde outubro de 2005."

Os setores que vão contratar mais empregados nesses três meses são vestuário e calçados, química e produtos alimentares, todos ligados ao mercado doméstico. Na indústria de vestuário, 50% das empresas confirmam intenção de abrir novas vagas.

Essa nova postura dos empresários, que apresentavam insatisfações pontuais em relação ao comportamento da economia até o mês passado, indica agora mais confiança, segundo avalia a FGV. A expectativa de uma retomada forte da demanda através do "efeito renda" e crédito está animando as empresas. As projeções são mais favoráveis ao crescimento da demanda interna do que da externa. No total das empresas ouvidas pela FGV, 49% estimam aumento da procura doméstica e 32% aposta num aumento das exportações.

Essa perspectiva de aumento do consumo influencia também os 34% entrevistados dispostos a aumentar os preços de seus produtos. Em abril, este percentual era menor, de 28%. Para Campello, tal iniciativa empresarial visa sobretudo uma recomposição de margens. "Como as margens estão apertadas, uma forma comum de ampliá-las seria aumentando preço", explica.

O economista calcula que esta intenção indica uma inflação maior no atacado no terceiro trimestre. Mas, não significa uma grande pressão inflacionária à vista. "Não é uma pressão disseminada por todos os produtos, que signifique impacto na inflação do varejo. Não será um movimento de alta generalizada dos produtos", minimiza.

Um dado importante da sondagem é o referente a situação dos estoques na indústria. Em julho deste ano, os estoques foram considerados excessivos por 11% das empresas e insuficientes por 4%. A diferença de sete pontos percentuais entre os dois extremos de respostas indica uma situação de normalidade dos estoques, confirmada pelo coordenador da sondagem.

É importante ressaltar o fato, já que em julho do ano passado 14% das empresas estavam com excesso de estoques e apenas 2% tinham estoques insuficientes. Em 2005, o mês de julho foi o pico da estocagem da indústria , o que contribuiu para a queda -menos 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) trimestral dessazonalizado) - da atividade econômica do terceiro trimestre. (* Valor Online, do Rio)