Título: Chávez começa a campanha de 2012
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Fonte: Correio Braziliense, 25/09/2010, Mundo, p. 32

Na reta final para as legislativas de amanhã, presidente mobiliza base pela reeleição

O presidente Hugo Chávez transformou em treino para a própria reeleição, daqui a dois anos, a reta final da campanha do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) para as eleições legislativas de amanhã. Temos a obrigação de ganhar. Nunca mais perderemos, afirmou Chávez na semana passada. Ontem, o líder completou sua previsão: Os ventos anunciam os furacões de 2012, quando iremos às presidenciais outras vez para os próximos seis anos. Para o presidente, no poder desde 1998, a renovação da Assembleia Nacional será uma espécie de plebiscito sobre seu projeto político, intitulado Revolução Bolivariana. Vamos ganhar e aprofundar a revolução socialista, acelerar a transição política e social, enterrar o velho modelo e construir o novo, prometeu, embora nuca tenha visto tão ameaçada a maioria confortável com a qual sempre governou.

Chávez alertou que uma vitória da oposição seria o fim de sua revolução, mas prometeu reconhecer o resultado das urnas e negou a possibilidade de fraude. Ninguém pode dizer, a menos que seja um irresponsável, que existe uma fraude montada, desafiou. O PSUV pretende conquistar dois terços (110) das 165 cadeiras. Desse modo, os parlamentares governistas poderão legislar sobre temas fundamentais e designar os integrantes dos demais poderes públicos. O comandante Chávez precisa da Assembleia Nacional que temos hoje: revolucionária e 100% chavista, afirmou a dirigente do partido governista Jacqueline Farías.

Atualmente, o Parlamento unicameral venezuelano é integrado por 139 deputados do PSUV. Os demais são dissidentes, eleitos em aliança com o chavismo e depois rompidos com o governo. A oposição se retirou das últimas eleições legislativas, em 2005, denunciando irregularidades na votação. Agora, vê a chance real de recuperar o espaço perdido. Integrantes da coligação Mesa da Unidade Democrática buscam obter entre 60 e 70 cadeiras, com o objetivo de fortalecer a democracia.

A oposição afirma que vai conseguir ingressar na Assembleia Nacional e interferir nas decisões de modo que o órgão funcione, efetivamente, para controlar o Executivo. Tenho a esperança de que o processo imposto vai ser revertido. Nas ruas, o povo diz que já não acredita neste governo, disse Juan José Molina, deputado aspirante à reeleição pelo Partido Podemos, que faz parte da coligação. Delsa Solórzano, líder da oposição, ressaltou que as eleições de domingo vão marcar o início de uma nova era.

Empate nas pesquisas

As pesquisas de intenção de voto na Venezuela mostram um empate técnico entre o PSUV e a coligação Mesa da Unidade Democrática, ou uma ligeira vantagem para os candidatos chavistas. Segundo Jesse Chacón, diretor-geral do instituto de pesquisas GIS XXI, ligado ao governo, o PSUV deve obter entre 50,6% e 54,6% dos votos, o que garantiria as 110 vagas visadas pelo partido.

Essa sutil vantagem dos aliados de Chávez pode ser, em parte, devida à lei eleitoral aprovada em 2009. Ela determina que os estados menos povoados, onde o governo é mais forte, sejam tão bem representados no Parlamento quanto os que concentram maior população. Desse modo, a oposição pode ganhar na soma nacional dos votos e ainda assim não ter a maioria das cadeiras, o que representa uma situação inédita no país.

No estado de Zulia (oeste), o mais povoado da Venezuela e atualmente governado pela oposição, um deputado será eleito com cerca de 255 mil votos, por exemplo. Já no Amazonas (sul), um candidato deve consegue uma cadeira na assembleia com aproximadamente 50 mil votos. Essa tendência é abertamente desfavorável para a oposição, que acusa o sistema eleitoral de não garantir o pluralismo nem a representação proporcional das minorias.

A maioria, apesar de ser relativa, ficará com mais deputados que a proporção de votos obtida, e as minorias ficarão subrepresentadas, criticou a organização não governamental Ojo Electoral. Essa ONG assegura que, segundo projeções baseadas na nova lei, um bloco político que consiga o apoio de 60% do eleitorado poderá obter 90% dos assentos. Partidos minoritários, explica a Ojo Electoral, ficam em clara desvantagem. A determinação foi aprovada pela mesma Assembleia Nacional que será renovada amanhã.