Título: Lula define os cinco principais eixos da campanha
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Política, p. A6

A campanha à reeleição do presidente Lula se apoiará em cinco eixos principais: desenvolvimento com distribuição de renda; inclusão com políticas sociais; tecnologia; educação e energia. "São pontos de sucesso do governo atual, que deverão ser preenchidos com informações para serem distribuídas nos Estados". A decisão foi tomada ontem, em reunião do conselho político da candidatura.

Dentro desses eixos, a campanha vai intensificar o contato do presidente com o povo, sobretudo com a população carente. Segundo o ministro da coordenação política, Tarso Genro, "a relação direta do presidente com o povo é uma coisa que o alimenta muito politicamente e desperta na população um sentimento de solidariedade, unidade e defesa de seu governo " .

Apesar dessa relação - o presidente teria um percentual de 77%, 78% de eleitores que não deixariam de votar nele -, o ministro afirmou que esses eleitores não dão condições para que Lula vença no primeiro turno. "O que temos de fazer é dar solidez a essa base e daí procurar avançar para que a vitória seja consagradora. E essa expansão será feita em torno de alguns eixos temáticos", explicou.

A coordenação de campanha também definiu que deverá ser distribuída, maciçamente nos Estados, informações para assegurar o discurso político dos aliados regionais. Participaram do encontro, além do presidente Lula, o vice José Alencar e os ministros Luiz Dulci e Tarso Genro e o assessor especial Marco Aurélio Garcia; pelo PMDB, o senador José Sarney (AP) e o deputado Jader Barbalho (PA); pelo PL, Alfredo Nascimento; pelo PCdoB, Renato Rabelo e Aldo Rebelo; pelo PTB, Walfrido Mares Guia, pelo PSB, Roberto Amaral; além do publicitário João Santana.

Por outro lado, o PT reconhece a necessidade de buscar uma reaproximação com a classe média. Reconhece que a crise ética vivida pelo partido nos últimos 18 meses e o próprio exercício do poder, que o impediram de continuar com o discurso mais fácil de oposição, fizeram com que a legenda perdesse os votos que agregava, tradicionalmente, na classe média. As últimas pesquisas eleitorais mostram Lula forte nas classes C, D e E, mas com perda de votos nas classes A e B e entre os formadores de opinião. O partido espera que a campanha eleitoral permita reverter esse quadro, já que a legenda terá espaço para se defender, segundo palavras do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.

Tarso Genro vê razões para a perda do voto da classe média, além da questão ética. "Para as hostes tucanas foram os eleitores moderados, conservadores, que votaram em Lula em 2002 e agora optam pelas bandeiras do PSDB. O segundo grupo opta por uma escolha radical, de extrema-esquerda, como o P-SOL".

O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, é mais pragmático. Para ele, o discurso ético e os escândalos de corrupção tiveram muito mais ressonância nas classes mais informadas, superiores, que optam por um "discurso moralista". Mas não acha ruim esse movimento de migração de votos, pois considera que a adesão das camadas mais carentes da população é uma prova cabal de que as políticas sociais do governo federal surtiram efeito. Além disso, adota a argumentação da matemática dos votos. "As classes C, D e E são mais numerosas. Você perde uns votos aqui, mas ganha muitos lá, onde as eleições são, tradicionalmente, decididas".

Há ainda uma outra questão interna, própria da dinâmica de campanha, que está longe de ser resolvida: alguns articuladores, sobretudo da máquina partidária petista, mantêm a opinião de que Lula deve licenciar-se da Presidência para ter mais tempo para dedicar-se à campanha eleitoral. "Eu vejo companheiros nossos desesperados. O Alckmin veio umas cinco ou seis vezes a Minas. O Lula veio uma, como presidente, participar de uma solenidade em homenagem a Santos Dumont".

Cresce o clamor para que Lula participe mais ativamente de atividades externas, apesar das limitações impostas pela agenda de presidente. No último fim de semana, Lula esteve no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No próximo, a agenda de campanha inclui a Região Sudeste - outra área na qual o presidente-candidato enfrenta dificuldades. Além disso, a intenção é organizar reuniões temáticas durante a semana. "Poderemos fazer debates em associações comerciais, sindicatos, entidades empresariais", exemplificou o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

Berzoini é contra a licença presidencial, alegando que "presidente não bate ponto". Para ele, Lula pode trabalhar das 8h às 15h e depois fazer um comício. O presidente do partido também acha que a dinâmica da campanha tende a uma aceleração gradativa.

Pimentel prefere apostar na propaganda eleitoral , em detrimento das atividades externas. "Eventos de rua, comícios, caminhadas, carreatas mostram força, mas só atraem quem já vota em você. É no horário eleitoral que o candidato vai conversar com os indecisos e ter a chance de inverter votos".