Título: Obama rebate Ahmadinejad
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Fonte: Correio Braziliense, 25/09/2010, Mundo, p. 33

Presidente americano chama de odiosas as acusações do colega iraniano, segundo as quais o governo norte-americano estaria por trás dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001

Barack Obama classificou como ofensivas e odiosas as acusações feitas aos Estados Unidos pelo presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, na última quinta-feira ele sugeriu que o governo americano estaria por trás dos ataques de 11 de setembro de 2001. Segundo o chefe de Estado dos EUA, as declarações do colega iraniano são indesculpáveis. Ahmadinejad, no entanto, não demonstrou arrependimento algum no dia seguinte ao polêmico discurso. Ao contrário, até aconselhou a ONU a investigar a verdadeira razão dos atentados às torres gêmeas de Nova York e ao Pentágono.

Um evento ocorreu, e sob o pretexto daquele evento dois países foram invadidos e, consequentemente, centenas de milhares de pessoas foram mortas. Vocês não acham que essa desculpa deve ser revista?, disse Ahmadinejad, em entrevista coletiva em Nova York. Vocês não acham que, se uma missão investigativa tivesse sido criada desde o princípio, para explorar as verdadeiras razões por trás do 11 de setembro, nós não veríamos a catástrofe que vemos hoje no Afeganistão e no Iraque?, completou, questionando o fato de todas as nações aceitarem aquilo que Washington diz. Ele ainda criticou o exagero dos americanos em iniciar uma guerra só para encontrar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Os americanos não deviam ocupar o Oriente Médio, bombardear festas de casamento e aniquilar vilas inteiras só porque um terrorista está escondido lá, declarou.

Em entrevista ao serviço da BBC em persa, Obama disse que Ahmadinejad foi particularmente ofensivo por fazer suas acusações em Manhattan, onde ficava o World Trade Center, atingido por dois aviões pilotados por terroristas. Foi ofensivo, foi odioso, afirmou, destacando que, nesse local, famílias perderam seus entes queridos, pessoas de todas as religiões, de todas as nacionalidades, que viram isso como a tragédia crucial desta geração.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, também se manifestou contrária às declarações do presidente iraniano. A afirmação de que os EUA foram de alguma forma responsáveis pelos atentados de 11 de setembro, e de que a maioria dos americanos também pensa assim, é escandalosa e inaceitável, disse, em um comunicado. A delegação da União Europeia seguiu as delegações americana e britânica e abandonou a sala da assembleia durante a fala de Ahmadinejad.

Ignorando o repúdio dos líderes europeus ao seu discurso, o presidente iraniano disse ontem que espera que Ashton fixe uma data para reiniciar as negociações sobre o programa nuclear. Segundo ele, um plano provisório previa uma reunião no próximo mês entre um representante de Teerã e um membro do grupo 5+1, formado por EUA, França, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha.

Pressões retóricas Para o chanceler brasileiro, Celso Amorim, o inflamado discurso do iraniano na ONU não deve atrapalhar os esforços brasileiros para conseguir uma solução negociada. Tem de levar em conta que essas coisas ocorrem, que essas pressões retóricas, com as quais obviamente nós não concordamos, não impedem que a gente continue trabalhando pela paz, disse, ao sair de uma reunião da Aspa (articulação entre a América do Sul e os países árabes). Ele também sugeriu que Ahmadinejad teria conseguido seu objetivo com o discurso, já que está na primeira página de vários jornais nos EUA.

Amorim, que se reuniu nos últimos dias com Ahmadinejad e com o presidente da Turquia, Abdullah Gül, se disse muito animado com a possibilidade de o 5+1 retomar as negociações, com um acordo revisado. O chanceler brasileiro afirmou, inclusive, que para conseguir a paz com o Irã as potências vão ter que usar a Declaração de Teerã, assinada em maio por Irã, Brasil e Turquia. Se eles vão acrescentar alguma coisa ou não, nós sabíamos que isso ia ocorrer, de qualquer maneira, na mesa de negociação. Não vamos cobrar copyright, declarou. E se quiserem nos chamar (para as negociações), nos chamem, se não quiserem, não tem nenhum problema.

ISRAEL SEM TNP Por 51 votos contra 46, os países-membros da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) decidiram não obrigar Israel a assinar o Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares. A União Europeia e os Estados Unidos se opuseram ao projeto de resolução, estimando que ele poderia perturbar as atuais negociações entre os governos israelense e palestino. O Estado judeu é considerado a única potência nuclear da região, embora não confirme (nem desminta) a posse de um arsenal. Pouco antes da votação, o embaixador de Israel, Ehud Azulay, havia advertido que a adoção desta resolução seria um golpe fatal em qualquer esforço de cooperação futura para um melhoramento da segurança regional no Oriente Médio. A decisão de obrigar o governo israelense a assinar o TNP também colocaria em risco, segundo os EUA, um projeto de conferência em 2012 com vistas a desnuclearizar o Oriente Médio. Para o embaixador americano na AIEA, Glyn Davies, não há vencedores, nem vencidos nessa votação. O que é importante é que isso preserva uma possibilidade de nos dirigirmos a um Oriente Médio livre de armas de destruição em massa, acrescentou. A decisão, contudo, representou um revés para os países árabes que fazem parte da AIEA eles que exigem que Israel assine o tratado.