Título: Câmara terá embate sobre reajuste para as aposentadorias
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2006, Política, p. A8

Sérgio Lima/Folha Imagem Albuquerque, líder do governo na Câmara dos Deputados: mobilização para desobstruir a pauta de votações O governo vai mobilizar sua base na Câmara para tentar aprovar hoje a medida provisória que concede reajuste de 5% aos aposentados que ganham mais de um salário mínimo. Após o desgaste do veto presidencial à MP do mínimo - na qual a oposição incluiu um reajuste de 16% para os aposentados - os governistas garantem que não há porque obstruir a votação do primeiro item da pauta da Câmara. "Se a oposição queria a imagem de um governo desgastado, já teve. O presidente deixou claro que não tem pensamentos eleitoreiros quando o assunto é responsabilidade fiscal", assegurou o líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).

A oposição promete tumultuar a votação e vai exigir votação nominal no destaque que propõe reajuste de 16% para os benefícios previdenciários. Para evitar surpresas, Albuquerque ligou para todos os líderes aliados na semana passada, mandou telegramas ao longo do fim de semana para os parlamentares da bancada governista e reúne as lideranças partidárias na manhã de hoje na Câmara, por volta das 11h. Antes, vai ao Planalto reunir-se com o ministro da coordenação política, Tarso Genro, para acertar a estratégia de plenário. "Vamos para o enfrentamento", assegurou.

O líder governista não acredita que o escândalo das sanguessugas possa atrapalhar o quórum de votações, nesta semana de esforço concentrado. Alguns parlamentares acreditam que a presença em Brasília em pleno processo eleitoral e com o Congresso profundamente desgastado por escândalos de corrupção diminua o ímpeto de votação dos deputados. "Esperamos que não. Os sanguessugas só podem atrapalhar quem está envolvido com eles. Quem não está tem mais é que trabalhar", defendeu Albuquerque.

Na reunião da coordenação política de ontem, o governo resolveu comprar a briga para conseguir desobstruir a pauta de votações durante o esforço concentrado do Congresso. Além da MP dos aposentados, quer aprovar a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, a Super-Receita, o Fundeb e a Timemania. A chefe da Casa Civil, ministra Dilma Roussef, espera que a oposição haja de maneira responsável. "O governo gostaria de dar o aumento de 5%. E fará tudo para que isso se confirme. Mas você não pode dar aumentos que não estão previstos no Orçamento, não podemos dar aumentos que o país não suporta", defendeu.

Dilma deixou implícita a possibilidade de um novo veto presidencial, caso o governo seja novamente derrotado. "A irresponsabilidade com o país pode causar prejuízo para os aposentados", alertou. O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou que a oposição vai estar presente no plenário e assegurou que, se houver obstrução, a culpa será do governo. "Se o governo for esperto, vota a MP e obstrui no Senado. Fica valendo até depois da eleição", sugeriu o pefelista.

Aleluia rebateu a acusação de que a oposição está sendo irresponsável ao defender um reajuste de 16%. "O governo deu R$ 10 bilhões de aumentos aos servidores, muitos deles com salários de R$ 5 mil. Por que não dar R$ 7 bilhões para quem ganha R$ 500, R$ 600, R$ 700? Cancela um aumento, que foi fora do prazo, e dá o outro, é uma questão matemática. E ainda sobram R$ 3 bilhões", brincou o oposicionista.