Título: Roriz sai do páreo e põe a mulher no lugar
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 25/09/2010, Cidades, p. 37

Após o impasse no STF, o ex-governador renuncia à candidatura, dizendo-se vítima de injustiças e indica Weslian para disputar o cargo

Vitorioso em quatro eleições que disputou no Distrito Federal, três para o governo e uma para o Senado, Roriz tornou-se um colecionador de votos, apesar da sucessão de denúncias e suspeições que pairam sobre ele. A divergência no Supremo sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições deste ano precipitou a desistência do ex-governador de disputar o GDF, o que pode significar o fim de uma carreira pública. Roriz renunciou à candidatura sub judice. Mas vai fazer uma última tentativa de reconquistar o poder. Testará seu potencial de transferência de votos para a mulher, Weslian Roriz (PSC). Ela será a substituta do ex-governador, que abriu mão do embate poucas horas depois de o Supremo adiar a definição sobre o Ficha Limpa. Até hoje, não conheci o sabor da derrota, graças a Deus. Porém, estavam me ameaçando e eu busquei uma alternativa, disse.

Roriz desistiu do plano A, evitou o plano B, que seria a substituição dele por uma das duas filhas ou mesmo pelo vice na chapa, Jofran Frejat (PR), para indicar a própria mulher (leia perfil na página 40), com quem é casado há meio século. A decisão foi tomada na madrugada de ontem, logo após o encerramento da sessão no Supremo, que frustrou as expectativas de Roriz. O grupo ligado ao ex-governador avaliou que tão desgastante quanto uma possível derrota no julgamento do STF é a indefinição sobre o registro de candidatura. Roriz não venceu a batalha na alta Corte e correria ainda o risco de perder nas urnas, já que saiu fragilizado no processo.

A escolha da mulher e não de uma das filhas indica que Roriz quis preservar as candidaturas de Jaqueline e Liliane. As duas estão em campanha. Jaqueline disputa para deputada federal e Liliane vai tentar ocupar a vaga deixada pela irmã na Câmara Legislativa. A substituição de Roriz por quem quer que seja a esta altura do campeonato é uma manobra arriscada, interpretada até mesmo entre alguns aliados do ex-governador como sacrifício político. E as duas filhas de Roriz têm boas chances de vitória.

Telefonema Às 6h de ontem, Jofran Frejat recebeu um telefonema de Roriz. O ex-governador convidou o vice para substituí-lo, mas já tinha em mente a opção pela companheira. Frejat adotou a mesma linha de raciocínio do aliado. Argumentou que considerava mais adequada a escolha de uma representante do clã. Frejat venceu as últimas cinco eleições para deputado federal. E, numa circunstância tão desfavorável, correria o risco de personificar uma derrota nas urnas. Não quis. Roriz me ligou e, muito gentilmente, sugeriu que eu fosse o candidato. Mas disse a ele que será muito mais produtivo investir em uma pessoa da família e achei genial a escolha de Weslian, comentou Frejat, que continua como vice na chapa.

Num manifesto distribuído após a entrevista coletiva na qual Roriz anunciou a renúncia de sua candidatura, o ex-governador deu sinal de qual será o tom da campanha daqui para a frente, agora em prol da mulher: Tentam, de todas as maneiras me impedir de ser candidato. Criaram leis, regras e sequer decidiram sobre elas, numa atitude medrosa. Me tornaram vítima de uma brutal injustiça! O povo reconhecerá isso e dará a resposta nas urnas.

Depois de uma vida pública entremeada de vitórias e escândalos (leia abaixo), Roriz na quarta tentativa de se eleger chefe do Executivo do DF foi abatido nas preliminares. Na madrugada de ontem, relatou que acordou e disse à mulher: A ficha caiu, não serei mais candidato. Ao apresentar sua herdeira política, porém, não anunciou aposentadoria. Não sei se estou me despedindo da vida política, vai depender da idade e da saúde, afirmou, deixando a entender que pretende, sim, fazer um governo compartilhado, caso tenha sucesso na indicação de Weslian. Faltam 08 dias para o 1º turno

Linha do tempo

1988 Natural de Luziânia, Joaquim Roriz é nomeado governador do DF pelo ex-presidente José Sarney.

15 a 29 de março de 1990 Exerce o cargo de ministro da Agricultura e Reforma Agrária no governo Fernando Collor. Sai para disputar o governo do DF.

Outubro de 1990 Roriz é eleito o primeiro governador do DF por voto direto pelo extinto PTR, tendo como vice Márcia Kubitschek, filha de JK.

1994 O candidato de Roriz, Valmir Campelo, hoje ministro do TCU, perde as eleições para o então petista Cristovam Buarque.

1998 Roriz (já no PMDB), ao lado do vice Benedito Domingos, derrota Cristovam, candidato à reeleição ao GDF, no segundo turno.

2002 Roriz é reeleito e chega ao quarto mandato de governador no DF.

2006 Roriz entrega o GDF à vice Maria de Lourdes Abadia para concorrer ao Senado. Abadia tenta a reeleição, mas perde para José Roberto Arruda, que havia sido secretário de Roriz.

14 de junho de 2007 A Polícia Civil do DF deflagra a Operação Aquarela. Vinte pessoas são presas por suspeita de participação em um esquema de desvio de dinheiro do Banco de Brasília (BRB). Das investigações, vaza a gravação do diálogo entre o então senador Joaquim Roriz com Tarcísio Franklin de Moura, então presidente do banco. Eles tratavam da partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário Nenê Constantino, fundador da Gol Linhas Aéreas. Roriz alega ter pedido o dinheiro emprestado para quitar a compra de uma bezerra.

4 de julho de 2007 Roriz renuncia ao mandato de senador, após o PSol ter protocolado contra ele uma representação por quebra de decoro.

2010 5 de julho O TRE-DF recebe a inscrição de Roriz (PSC) como candidato ao GDF.

9 de julho O Ministério Público Eleitoral impugna a candidatura de Roriz. O ex-governador é enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

4 de agosto O TRE-DF indefere a candidatura de Roriz.

12 de agosto Recurso de Roriz segue para o TSE.

30 de agosto O TSE confirma decisão do TRE-DF.

3 de setembro Recurso extraordinário é interposto para que o caso seja julgado pelo STF.

6 de setembro Para tentar acelerar a análise do tema, a defesa entra com reclamação no STF, mas a queixa é julgada improcedente.

10 de setembro Os advogados do Roriz ingressam com agravo regimental pedindo nova avaliação da reclamação, pelo Plenário do Supremo.

21 de setembro O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, emite parecer defendendo a aplicação da Lei da Ficha Limpa no caso do ex-governador Roriz.

22 e 23 de setembro Em sessão com quase 14 horas de duração, os ministros do Supremo discutem o recurso de Roriz. Com cinco votos favoráveis e cinco contrários, a Corte não chega a consenso.

24 de setembro Roriz renuncia e indica a mulher, Weslian, como substituta na corrida ao Buriti.