Título: A Europa de volta aos trilhos
Autor: Wammen ,Nicolai
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2012, Opinião, p. A11

Durante o 1º semestre de 2012, a Dinamarca detém a presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE). O maior desafio é retirar a UE da sua atual crise e colocar a economia de volta aos trilhos. Resolver essa crise é de extrema importância não só para os países europeus. Ela afeta também a economia mundial e o desenvolvimento de outros países, incluindo o Brasil. É imperativo que tenhamos sucesso em encontrar soluções para os nossos problemas comuns e que compartilhemos nossas ações e intenções com parceiros ao redor do mundo. É crucial também garantir que as decisões tomadas para resolver a crise não acabem com o balanço social na Europa.

Diversas iniciativas para resolver a crise foram introduzidas. Em 2010, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira foi criado, para prover auxílio aos países da zona do euro em sérias dificuldades financeiras. No último trimestre de 2011, importantes medidas foram tomadas para reforçar a capacidade de resposta do FEEF e para garantir a saúde do setor bancário europeu. Em outubro, o Eurogrupo decidiu reforçar a regulação da governança econômica. Em dezembro, o Conselho Europeu discutiu novo acordo intergovernamental para aprofundar a união econômica, o Pacto Orçamental, o qual foi aprovado pelo Conselho em janeiro de 2012. O Pacto, que provavelmente será assinado em março, reforça a estabilidade, a coordenação e a governança na zona do euro. A Dinamarca, por ser uma economia pequena, aberta e dependente da estabilidade da zona do euro, apoia essa iniciativa.

A presidência dinamarquesa trabalhará incansavelmente para assegurar que a UE continue a produzir resultados tangíveis e úteis, inclusive econômicos e financeiros. Como exemplo, promoveremos o 1º turno de discussões do chamado "Semestre Europeu", que tem por meta assegurar melhor supervisão e coordenação econômica em âmbito europeu, assim como formar quadro de abordagem mais integrado e compreensivo da política econômica na UE.

Como presidente, a Dinamarca fará sua parte para trazer a Europa um passo mais próximo de sair da crise. Nós escolhemos quatro temas prioritários: uma Europa responsável, uma Europa dinâmica, uma Europa verde, e uma Europa segura. Esses títulos resumem os desafios da União Europeia. É imprescindível maior responsabilidade nos planejamentos orçamentário e econômico dos países europeus, mas devemos ir além de medidas de consolidação das economias europeias; é necessário criar dinâmicas para o futuro, adotando iniciativas que assegurem crescimento a longo prazo na Europa - crescimento que o governo brasileiro também salientou ser importante. Se queremos desenvolvimento a longo prazo na Europa, ele tem de ser verde e sustentável, para que nossa fundação econômica reflita nossa posição diante das mudanças climáticas. Além disso, precisamos criar uma Europa mais segura, ampliando a cooperação na área judicial, tornando mais fácil, por exemplo, o combate ao crime transnacional dentro da UE.

Política de comércio global é parte da solução de como nos tirar da crise econômica. Em 2010, a exportação de produtos e serviços da UE totalizou 40% do PIB europeu e, portanto, a política comercial é instrumento singular ao nosso dispor, pois fomenta o desenvolvimento por meio de aberturas recíprocas de mercados sem gastos públicos significantes. Quanto mais ricos ficam, por exemplo, China, Índia e Brasil, mais a Dinamarca e a Europa podem beneficiar-se. Vivemos em um mundo interconectado em que economias em ascensão, como o Brasil, precisam exportar para a Europa, assim como muitas empresas europeias dependem das cadeias logísticas globais.

No que concerne à política comercial, a prioridade da Presidência dinamarquesa é promover crescimento e gerar empregos na Europa. Nesse sentido, é evidente que devemos priorizar os mercados dos países do Bric; com suas intensas e sustentáveis taxas de crescimento, esses mercados são vitais para as exportações europeias. Em relação ao Brasil, esperamos que a próxima rodada de negociações do tratado de livre comércio entre a EU e o Mercosul ocorra antes do final da nossa presidência. Além disso, manteremos abordagem construtiva à Organização Mundial do Comércio, apesar das dificuldades nas negociações da Rodada Doha; não esquecemos que a OMC constitui salvaguarda crucial ao protecionismo. A OMC é também a principal arena para discussão das questões sobre o futuro do comércio, incluindo a ligação com mudanças climáticas. Contudo, ao focarmos na geração de empregos e no fomento ao crescimento na Europa, não perderemos de vista que o comércio global tem de ser livre e justo; é fundamental que as políticas de comércio e de desenvolvimento reforcem-se e complementem-se.

A palavra de ordem, durante a presidência dinamarquesa, é unidade; esta será a nossa forma de achar saída para a crise. Agiremos em prol dos interesses de todos, procurando soluções que satisfaçam o interesse europeu. No fim, esses interesses também serão convenientes ao mundo.

Nicolai Wammen é o ministro dinamarquês para Assuntos Europeus

Pia Olsen Dyhr, ministra de Comércio e Investimentos, ocupa a presidência dinamarquesa do Conselho da União Europeia.