Título: BC vai ter gerência para avaliar riscos
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Finanças, p. C1

O Banco Central vai ter uma nova unidade no seu organograma. Decidida no último dia 8, a criação da Gerência Executiva de Riscos (Geris) será oficialmente anunciada hoje e tem como objetivo dar à Diretoria de Política Monetária (Dipom) uma estrutura dedicada exclusivamente à avaliação dos riscos de mercado incorridos pelo BC em suas operações com o sistema financeiro e com os mercados internacionais.

A nova gerência responderá diretamente a Rodrigo Azevedo, diretor da Dipom, e estará funcionando dentro de aproximadamente 50 dias, quando se encerrará o prazo de dois meses fixado para sua estruturação. Para implementá-la, foi criado um grupo de trabalho, composto basicamente por funcionários do Departamento de Operações das Reservas Internacionais (Depin), de onde sairá a maior parte da equipe da nova unidade.

Na semana passada, o BC anunciou a substituição do chefe do Depin. Após sete anos, Daso Coimbra decidiu deixar o cargo, assumido por Márcio Ayrosa, até então chefe do Departamento de Relações Internacionais. A criação da Geris não foi, pelo menos não diretamente, o motivo do seu pedido de afastamento. Mas, segundo um alto funcionário do banco, existe relação entre os dois fatos. Como teria mesmo que mexer no quadro do Depin para formar a equipe da Geris, Rodrigo Azevedo viu nisso uma oportunidade de resolver um foco de conflito interno e tirar do departamento Paulo Cacella, subordinado com quem Daso tinha sérios problemas de relacionamento. O motivo da insatisfação de Daso seria o fato de Cacela ter virado assessor direto de Azevedo, passando a ocupar um posto hierarquicamente superior.

A saída de Daso levou 37 funcionários do Depin a renunciar a funções comissionadas, como forma de protesto. Mas a grande maioria voltou atrás posteriormente e o número de pedidos de descomissionamento estaria em apenas sete, segundo fontes do banco.

Sob o ponto de vista operacional, a Dipom é a mais importante das oito diretorias do BC, por estar sob sua responsabilidade quase todo o universo de transações financeiras da instituição com o mercado. Estão submetidos à Diretoria de Política Monetária os departamentos encarregados de fazer as operações que regulam a liquidez do sistema bancário, que mantêm a taxa Selic efetiva no nível considerado necessário para atingimento das metas de inflação e ainda as que dão sustentação à política cambial.

Um deles é o Depin, por intermédio do qual o BC faz suas aplicações financeiras no exterior e operacionaliza pagamentos da dívida externa pública federal. Também é o Depin que faz os leilões de câmbio do BC, para comprar dólares dos bancos e reforçar as reservas cambiais ou então para promover intervenções de venda e evitar excesso de volatilidade no câmbio. Os outros dois departamentos vinculados à Dipom são o de Mercado Aberto (Demab) e o de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban).

O Demab é o que executa as operações compromissadas com títulos públicos entre o BC e os bancos, parte importante da tarefa de regular a liquidez da economia. Também é responsável por realizar as operações de swap cambial, um dos instrumentos de política cambial da autoridade monetária. O Deban, por sua vez, cuida da movimentação das contas de reservas mantidas pelos bancos no BC, normatiza e operacionaliza os recolhimentos compulsórios das instituições financeiras, socorrendo-as com empréstimos de redesconto quando necessário.

Cada um dos três departamentos já faz as avaliações de riscos de mercado envolvidas em suas próprias operações. Mas o BC vinha sentindo falta de uma unidade encarregada de olhar esses riscos de maneira agregada, tarefa que caberá à Geris. Com a criação da gerência, o BC brasileiro segue uma tendência de outros bancos centrais do mundo, que é de fazer uma gestão consolidada de riscos de mercado