Título: Cai participação de estrangeiros em títulos
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Finanças, p. C1

A aversão ao risco dos papéis de países emergentes, mais acentuada com a volatilidade que permanece desde abril no mercado financeiro, derrubou de 20% para 7% a participação de não-residentes no mercado primário de títulos da dívida interna. Essa queda ocorreu apesar da desoneração tributária concedida pelo governo desde fevereiro. O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Ronnie Tavares, reconhece que ainda não há sinal de recuperação desse tipo de investimento, mesmo com a aprovação definitiva, no Congresso, da Medida Provisória 281, que retirou a incidência do Imposto de Renda dos ganhos dos não-residentes.

Tavares também admite que, em junho, permanece a volatilidade que afeta o mercado há mais de dois meses. Essa turbulência vem provocando resgates líquidos na administração da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) e, pelo segundo mês consecutivo, o estoque caiu. Em maio, baixou 0,4% sobre o resultado de abril e chegou a R$ 999,10 bilhões. A maior participação de investimentos de não-residentes na dívida interna iniciou-se com a desoneração tributária determinada pela MP 281, em fevereiro. Somando-se o que ocorreu também em março, o volume financeiro dos estrangeiros naqueles dois meses chegou a R$ 8,4 bilhões, ou 20% das vendas do Tesouro no mercado primário.

Em fevereiro e março esses investidores compraram 9% do total de títulos prefixados. O papel preferido dos não-residentes, nesse período, foi a NTN-B (prefixado remunerado pela variação do IPCA), com participação de 42% do total desse título. Quanto aos prazos dos papéis comprados pelos estrangeiros, 57% foram para os que vencem acima de dez anos e 33% para os que têm vencimento entre três e dez anos.

Mas a volatilidade derrubou a participação dos não-residentes em abril e maio. O volume financeiro desses investidores caiu para apenas R$ 1,3 bilhão, ou 7% do total negociado no mercado primário. No total dos prefixados, os estrangeiros ficaram, nesse período, com somente 2%. A NTN-B continuou sendo o título preferido, mas a participação dos não-residentes nessas vendas caiu pela metade, baixando a 21% do total. Os papéis mais longos representaram, em abril e maio, 62% das compras dos estrangeiros.

Tavares comentou que a volatilidade continua mais acentuada, o que significa resgate líquido relativamente alto. Em maio, o Tesouro teve de cancelar leilões tradicionais previstos para o final do mês e realizar leilões simultâneos (compra e venda) de NTN-B, em 24, 25 e 26 de maio. O resgate líquido, no mês passado, foi de R$ 17,4 bilhões.

Maio também foi marcado pelo forte vencimento de LFTs. Num total de R$ 30,8 bilhões de vencimentos de papéis, os de LFT foram R$ 27,5 bilhões. Como o Tesouro não emitiu LFT em maio, a composição da dívida melhorou um pouco. "Usamos um pedaço do colchão de segurança para o resgate líquido em maio. Mas ele continua confortável. Era de cinco meses em março", avalia Tavares.

Segundo o que explicou o coordenador, os leilões simultâneos de NTN-B foram necessários por causa da volatilidade provocada pelo cenário externo. No Brasil, houve o início do aumento da taxa desses papéis. Com maior aversão ao risco, também houve baixíssima liquidez no mercado secundário. Portanto, o Tesouro decidiu fazer os leilões para estabelecer parâmetros nas duas pontas (compra e venda) e também para dar mais liquidez ao mercado.

No total, a compra líquida nesses leilões simultâneos de NTN-B foi de R$ 1,65 bilhão, com ganho aproximado de R$ 8 milhões. Segundo Tavares, esse cálculo é "conservador". "Não olhamos somente para os investidores estrangeiros. Os nacionais são os maiores detentores desses papéis", diz o coordenador.

No cronograma de junho, há a possibilidade de novos leilões simultâneos de NTN-B, mas Tavares informa que isso ainda não foi necessário. Em junho, dois leilões de LFT (papel remunerado pela variação da taxa de juros) já foram feitos. O total dos vencimentos deste mês é de R$ 32,1 bilhões, sendo que R$ 31,8 bilhões são de LFT.

Desconsiderando os swaps cambiais, o estoque de R$ 999,10 bilhões da DPMFi, em maio, foi composto por 29,55% de prefixados, 44,07% de papéis ligados à taxa Selic, 21,89% de títulos vinculados a índices de preços e 2,46% cambiais. O prazo médio das emissões, em maio, subiu de 31,9 meses para 33 meses. O prazo médio do estoque caiu de 29,6 meses para 29,3 meses. A parte dos títulos que vencem em até 12 meses caiu ligeiramente em maio: baixou de 40,3% para 40,1%.