Título: Produtividade sobe 3,2% até abril
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Brasil, p. A3

O esforço dos setores exportadores para compensar as perdas decorrentes da valorização do real fizeram a indústria acumular, nos primeiros quatro meses do ano, uma alta de 3,2% na produtividade do setor. Neste início de 2006, os ganhos de eficiência ainda foram obtidos com queda nas horas trabalhadas. Para os economistas, contudo, o padrão de produtividade ao longo do ano deve repetir o modelo de 2004 e 2005 e ser feito com aumentos simultâneos da produção e do emprego.

O ganho de produtividade no primeiro quadrimestre foi possível devido ao aumento de 2,90% na produção da indústria e à queda de 0,3% no número de horas pagas, segundo o cruzamento de duas pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Isso significa que foi possível produzir mais com menos trabalho ou com um número menor de empregados. Esse comportamento da produtividade interrompe o padrão dos últimos dois anos, quando produção e emprego (e horas trabalhadas) cresceram ao mesmo tempo. Ao longo de 2005, a produtividade subiu 2,3%, com alta de 3,1% na produção e de 0,8% nas horas pagas.

O movimento de alta na produtividade geral foi puxado mais pela indústria extrativa do que pela de transformação. A atividade extrativa cresceu 10,93% de janeiro a abril, na comparação com o ano passado, enquanto as horas trabalhadas avançaram apenas 0,84%. Com isso, a produtividade subiu expressivos 10%. Sergio Vale, economista da MB Associados, lembra que a mineração e a exploração de petróleo têm crescido a taxas recordes, devido à forte demanda mundial.

Já na indústria de transformação, a alta de 2,45% na produção e o recuo de 0,32% das horas trabalhadas levaram a um crescimento de 2,78% na produtividade. No entanto, esse ganho não ocorre de forma generalizada.

A produtividade maior foi conseguida de maneiras diferentes entre os setores. As indústrias exportadoras intensivas em capital e tecnologia fizeram isso com aumento simultâneo de emprego e produção. Já nos segmentos de uso intensivo de mão-de-obra, a elevação da produtividade veio por conta de uma forte redução nas horas trabalhadas e corte de emprego.

A indústria de máquinas e aparelhos eletrônicos e de comunicações é um bom exemplo do primeiro caso. Com produtos de maior valor agregado e produção automatizada, ela foi capaz de aumentar a produtividade em 9% nos quatro primeiros meses do ano. E isso foi possível mesmo com um incremento de 9,6% nas horas trabalhadas. O emprego subiu 5,3%. Com uma demanda forte por televisores devido à Copa do Mundo e a continuidade da procura por itens como celulares e DVDs, a produção avançou 19,5%. Além disso, segundo André Macedo, economista do IBGE, as exportações desses produtos ainda crescem.

No setor de mineração e petróleo, de acordo com Vale, o aumento de produtividade ocorre tanto pela maior demanda por esse tipo de produto, como também pelo alto nível de utilização da capacidade instalada. "Sem grandes investimentos, é preciso que os empregados trabalhem mais horas", diz. Em abril deste ano, o ramo petroquímico utilizava 91,5% de sua capacidade.

Já setores como os de vestuário, calçados e madeira desenham um cenário pouco animador. No segmento produtor de madeira, a produtividade cresceu 9%, mas refletiu uma redução tanto na produção quanto nas horas pagas e no emprego. Situação semelhante ocorreu com a indústria de calçados: aumento de produtividade às custas de emprego, mesmo com produção em queda. No ramo do vestuário, contudo, nem mesmo a redução de 3,8% do pessoal ocupado foi suficiente para segurar a queda de 3,24% na produtividade, pois a produção recuou 6,84%.

O emprego industrial, no entanto, deve se recuperar de maneira mais forte nos próximos meses. A projeção da indústria também é de crescimento. Com isso, os ganhos de produtividade devem ocorrer de forma mais positiva. Fábio Romão, economista da LCA Consultores, lembra que a resposta do emprego ao aumento da atividade se dá com alguma defasagem.

No primeiro quadrimestre, o número de vagas formais criadas na indústria de transformação chegou a 146 mil, maior do que os 131 mil do mesmo período de 2005, pelos dados do Ministério do Trabalho. Os números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) caminham na mesma direção: alta de 0,55% em abril na comparação com março.

Pelos dados do IBGE, o emprego industrial cresceu 0,5% em abril em relação a março, o que indica uma recuperação, na avaliação dos economistas do Bradesco. Para eles, nos próximos meses, ou o emprego irá se recuperar na esteira do aquecimento da atividade, ou então haverá altos ganhos de produtividade e aumento das horas trabalhadas, o que representará maior remuneração para os trabalhadores. Portanto, de uma forma ou de outra, o cenário para a massa de rendimentos - produto entre o emprego e a renda - é favorável.

No entanto, o economista Edgard Pereira, sócio-diretor da consultoria Edap, acredita que o crescimento do emprego não se dará de forma generalizada entre os setores. "Aqueles que já mostram aumento de horas pagas neste quadrimestre devem contratar em breve", diz. É o caso da indústria de máquinas e equipamentos eletrônicos e de comunicação e do refino de petróleo. Já naqueles em que as horas trabalhadas estão em queda, primeiro os empregadores tendem a estender a jornada de trabalho, para só depois contratar.

Apesar de apostar em um cenário positivo para este ano, Vale, da MB Associados, já se preocupa com 2007 e acredita que a perspectiva para o emprego na indústria não é animadora. "Os ramos que estão vendendo mais são justamente os que utilizam menos mão-de-obra. As demais indústrias ainda sofrem muito os efeitos do câmbio", afirma.

Além disso, a demanda interna, que tem ajudado a segurar o desempenho de alguns setores, como os de alimentos, tende a diminuir sua participação. "Não vamos mais contar com o estímulo de renda e crédito na mesma magnitude que tivemos neste e no ano passado", estima. Ele espera que o investimento fique concentrado em poucas áreas e, por isso, já reduziu sua previsão do PIB de 3,8% para 3,5%.