Título: Escolha de Tatto para líder do PT aumenta tensão com PMDB
Autor: Junqueira ,Caio
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2012, Política, p. A5

A vitória do deputado federal Jilmar Tatto (SP) contra José Guimarães (CE) na disputa pela liderança da bancada federal do Partido dos Trabalhadores deve aumentar a tensão no relacionamento com o principal aliado, o PMDB, dentro e fora do Congresso Nacional.

O motivo é que Tatto é um dos expoentes do grupo que já há algum tempo tem sido vitorioso nos embates internos na Câmara, dentre os quais se destacam o agora ex-líder Paulo Teixeira (SP), o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP), o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini e o presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e o vice-líder do governo Odair Cunha (MG).

É de dentro desse grupo que, no decorrer do primeiro ano legislativo deste mandato, saíram as principais ponderações sobre a viabilidade de cumprir ou não o acordo de rodízio do PT com o PMDB na presidência da Câmara. Algo que o grupo adversário, tendo à frente Guimarães, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (SP), o secretário de comunicação do PT, André Vargas (PR), e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP), sempre contestou.

A pouco menos de um ano para as eleições da Câmara, é fato que o grupo que fez Tatto líder arrefeceu o ânimo em quebrar o acordo com o postulante pemedebista, Henrique Eduardo Alves (RN). A mudança deve-se a manifestações da presidente Dilma Rousseff e da cúpula nacional do PT pró-acordo, em especial do presidente nacional da legenda, Rui Falcão (SP), com o aval do presidente de honra da sigla, Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda mais em um momento em que este se empenha diretamente nas negociações com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) para tirar da disputa pela Prefeitura de São Paulo o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP). O momento, portanto, é propício ao cumprimento de acordos.

Por outro lado, também é fato que esse grupo petista mais uma vez vitorioso na bancada não pretende entregar o terceiro cargo na hierarquia da República tão facilmente a Henrique Alves. Basta questioná-los sobre o esforço que farão para compor as alianças com as outras bancadas em torno de Alves. "É óbvio que isso é uma tarefa dele", respondem.

Em um momento em que uma aliança na Câmara entre PSD e o PSB começa a despontar como nascedouro da candidatura alternativa ao acordo PT-PMDB, é uma resposta que deveria começar a preocupar Alves. Ainda mais ao se resgatar alguns episódios de 2011. Foi o grupo que ontem conduziu Tatto à liderança que, dentro do PT, apoiou a deputada Ana Arraes (PSB-CE) para ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Contra a vontade de Guimarães e Vaccarezza, então fechados com o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Foi também o grupo de Tatto o mais crítico a Alves durante a votação do Código Florestal, em que o governo foi derrotado e Alves tido como artífice dessa derrota.

Mas foram os posicionamentos mais aguerridos de Alves contra o governo em janeiro, durante a crise que levou à substituição de seu aliado do comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) Dnocs, que acentuaram a rejeição desse grupo a ele. "A gente até quer ajudá-lo a se eleger presidente da Câmara, mas antes é ele que tem que se ajudar. E ele não tem ajudado", argumentam. Ademais, a ordem agora será rebater no plenário qualquer crítica ao PT e ao governo, venha ela da oposição, da base ou de Henrique Alves.

Evidentemente, uma nova interferência de Lula pode mudar esse cenário. O ex-presidente demonstrou que continuará a ditar os rumos dos petistas estejam eles dentro ou fora do governo. Em duas semanas, fez valer sua vontade tanto na bancada do Senado, ao manter a senadora Marta Suplicy (SP) na vice-presidência da Casa; quanto na da Câmara, para que Tatto fosse o líder. Tudo para trazer ambos, seus grupos e militância para a campanha de Fernando Haddad em São Paulo. Anteontem telefonou a Vaccarezza, a Guimarães, e Genoino para que cedessem no embate em nome "da unidade e do projeto político eleitoral nacional". Antes disso, deslocou, como mostrou o Valor sexta-feira, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), para operar a bancada.

Não é difícil imaginar que faria o mesmo pela reeleição de Dilma em 2014 ou, quem sabe, por si mesmo. Por essa razão, tem sinalizado apoio ao cumprimento do acordo com o PMDB.

Os pemedebistas, porém, afirmam que Alves será candidato independentemente de o PT cumprir ou não o acordo. "A presidente Dilma Rousseff e o presidente do PT, Rui Falcão, já se posicionaram em favor do acordo. Mas se isso não for suficiente, teremos candidato em qualquer circunstância, com ou sem o PT nos apoiando", afirma o vice-líder da sigla, Eduardo Cunha (RJ), um dos mais ligados a Alves na bancada.