Título: CPI das Sanguessugas divide Câmara e Senado
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Política, p. A4

A CPI das Sanguessugas ainda nem começou e já corre o risco de ter seus trabalhos desmoralizados. Com a regra de escolha de relatores e presidentes de CPIs de acordo com o tamanho das bancadas, deverá caber ao PMDB a escolha do relator dessa nova comissão, a ser entregue a um senador. E a bancada no Senado é liderada justamente pelo único senador acusado de envolvimento com a quadrilha dos Sanguessugas: Ney Suassuna (PB).

Com a instalação da CPI pela sessão do Congresso Nacional de quarta-feira, começou a disputa sobre quem vai conduzir as investigações. Se a presidência da comissão é importante, a relatoria é ainda mais estratégica. Cabe ao relator conduzir tudo, propor e aprovar quebras de sigilo, orientar investigações e, claro, redigir o texto final da CPI. O PMDB já disputa a relatoria com a oposição e tenta negociá-la com o PT.

A presidência caberá à Câmara e a relatoria ao Senado. O PMDB tem a maior bancada no Senado e dificilmente ficará sem um dos postos. O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), deu mostras de querer levar para o partido a relatoria: "Vamos tentar a relatoria ou a presidência. As duas deverão ficar com PT e PMDB, e nós podemos ter a relatoria". O petista era contra a criação da comissão. "Não tenho grandes ilusões com o trabalho de uma CPI nesse momento e nessa conjuntura política", afirmou, referindo-se à campanha eleitoral.

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), um dos proponentes da CPI, criticou a postura do PT. "Henrique Fontana disse que a relatoria é do PT? Mas é o mesmo PT que determinou aos deputados que retirassem suas assinaturas? É o mesmo PT que classificou a CPI como um factóide?", ironizou. As assinaturas para a criação da comissão foram colhidas por PPS, PV e P-SOL.

Se reivindicam a relatoria da CPI, PMDB e PT terão de enfrentar PSDB e PFL no Senado. Tucanos e pefelistas, juntos, têm 32 senadores. Unem-se em bloco e dizem formar a maior bancada do Senado e teriam direito a uma vaga. "Cabe ao maior bloco um posto na direção. Não tem como nós não ficarmos com uma das vagas", afirma o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Os integrantes da CPI são indicados de acordo com o número de cadeiras ocupadas por cada legenda no parlamento. São 34 titulares e PPS, PV e P-SOL dificilmente ocuparão espaços. Deverão contar com a ajuda do PSDB para participarem da comissão. Na quarta-feira, Virgílio apresentou a idéia de indicar o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) para ser o relator da comissão.

O acordo dos líderes é de realizar uma CPI rápida, de 30 dias. Há o temor de a comissão não conseguir terminar os trabalhos por causa das eleições. Até mesmo uma sindicância realizada pela Corregedoria da Câmara já terminou os trabalhos mas aguarda o envio das investigações pelo MP ao Congresso para liberar os relatórios sobre cada um dos deputados envolvidos.