Título: Apesar de melhora, economia global seguirá sob pressão
Autor: Moreira ,Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2012, Internacional, p. A7

A economia mundial começou forte neste início de 2012, no caminho oposto de nova recessão temida por muitos. Mas analistas continuam a ver na combinação de austeridade fiscal, pouca confiança dos consumidores e crise na zona do euro os ingredientes para a economia perder fôlego de novo no segundo semestre.

No ritmo com que começou o ano, a economia global poderia crescer 3,5%, ao invés dos 2,7% estimados por boa parte de organizações internacionais e analistas.

Após um fraco quarto trimestre de 2011, a economia mundial mostrou uma retomada sincronizada. Janeiro foi o primeiro mês, desde maio de 2009, no qual o índice de compra de gerentes (PMI) cresceu tanto nos EUA, como na zona do euro, no Japão, Reino Unido e em todos os países do Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

No entanto, analistas da consultoria Capital Economics, de Londres, notam que, num cenário análoga, uma perda de fôlego aconteceu na crise de 2008/09 e no ano passado também nos EUA.

As perspectivas para os EUA parecem bem melhor do que para o restante do mundo desenvolvido, mas o desemprego continua em nível recorde, os preços residenciais mantém o ritmo de queda e os esforços do Federal Reserve (Fed, o BC americano) para influenciar as condições monetárias parecem cada vez mais ineficazes.

Na Europa, uma solução permanente para a crise na zona do euro parece distante, mesmo com as operações de liquidez do Banco Central Europeu (BCE), que reduziram o risco de ocorrer um colapso de algum banco na região.

A Alemanha foi a decepção ontem. A produção industrial da maior economia da Europa caiu 2,9% em dezembro e 2,2% no quarto trimestre. As indicações são de que as condições para o setor industrial melhoraram em janeiro, mas que o setor de construção declinou, e que a produção de energia caiu 14%.

Com a demanda global, sobretudo na zona do euro, enfraquecendo-se mais, a expectativa é que a produção industrial alemã continuará no ritmo atual. O Deutsche Bank prevê agora queda na expansão das exportações, que foi de 8% no ano passado e ficaria em 2%. Tanto a zona do euro compra menos produtos alemães, como os emergentes também diminuíram as importações.

Em 2011, a Alemanha teve saldo comercial de € 157 bilhões. Já a Franca anunciou ontem novo déficit recorde, de € 70 bilhões no comercio exterior, refletindo o declínio na sua competitividade industrial, que é um tema central na atual campanha eleitoral para a Presidência da Republica.

Por sua vez, a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) sugeriu ontem um novo pacto global e um rompimento na maneira de pensar a economia, para permitir uma recuperação mais estável e mais equilibrada da economia mundial.