Título: Na contramão, setor cresce no Brasil e atrai capital
Autor: Sousa, Paulo Henrique de
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Internacional, p. A5

Enquanto a tendência dos mercados mais "maduros" parece ser de retração, no Brasil o setor imobiliário não tem do que se queixar. Os negócios estão confirmando as projeções otimistas do início do ano, o que atrai cada vez mais o capital estrangeiro.

Um exemplo recente, antecipado pelo Valor, é o ambicioso plano do grupo português Tiner de lançar R$ 1,4 bilhão em casas e apartamentos para as classes alta e média em São Paulo nos próximos cinco anos. Mas o investimento estrangeiro não fica restrito ao segmento residencial. A americana Hines vai aplicar no Brasil US$ 200 milhões do fundo CalPERS, dos professores da Califórnia, dos quais metade será usada para comprar e construir prédios de logística, como centros de distribuição. Destinados a grandes empresas, esse tipo de investimento dá uma certa segurança ao investidor pois os contratos são geralmente longos.

As construtoras e incorporadoras brasileiras também estão no mesmo ritmo. Depois de um 2005 morno, o setor passou a ser visto como promissor. Tanto que algumas delas, como Gafisa e Company, encontraram boa receptividade no mercado de capitais. E outras tantas já cogitam trilhar o mesmo caminho.

A onda do momento, no mercado brasileiro, são as parcerias entre as companhias para tocar projetos comuns. As que abriram o capital precisam aplicar rapidamente o dinheiro angariado. A via mais rápida é comprar participações em projetos já em andamento - aprovados e registrados na prefeitura, mas ainda não lançados.

O advogado Alexandre Navarro, do escritório Navarro, Bicalho Advogados, confirma que o mercado imobiliário anda mesmo agitado. Ele conta que as construtoras que abriram capital recentemente precisam aplicar o dinheiro ganho com a vendas das ações em projetos rapidamente, para dar uma satisfação aos acionistas. Algumas estão comprando até mesmo participações em outras companhias - mas ele prefere não mencioná-las.

Navarro conta que o sucesso das que já abriram o capital tem estimulado algumas construtoras e incorporadoras de porte médio a procurá-lo para saber se também poderiam aproveitar a receptividade dos investidores. Duas clientes dele já programaram a abertura de capital para daqui a um ano e meio. Mas nem todas estão aptas para isso. O maior obstáculo é indisposição para adotar práticas de governança corporativa exigidas pelo mercado de capitais.