Título: Planos de saúde abrem laboratório
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Empresas, p. B1

Os planos de saúde estão se transformando em concorrentes de seus próprios prestadores de serviço: os centros de diagnósticos. Operadoras como a Amil e a Unimed passaram a investir em uma rede própria para atender os clientes que precisam fazer exames.

Só neste ano, a DixAmico - operadora do grupo Amil voltada para as classes C e D - abriu três centros que realizam exames laboratoriais. Ao todo, já são 18 unidades. A Unimed Paulistana inaugurou uma unidade de análises clínicas e diagnósticos por imagem no ano passado, outra no começo deste ano e deve abrir outras duas até dezembro.

Por trás desses investimentos está a intenção de reduzir as despesas, já que a cada dia se torna mais raro sair do médico sem um pedido de exame. "A área de diagnósticos é um dos grandes custos da operação médica. Ao fazer isso dentro da estrutura da Amil, busca-se um melhor gerenciamento", afirma Ilza Fellows, diretora-geral da Foccus, rede própria de atendimento diagnóstico da DixAmico.

Hoje, cerca de 75% dos exames que os 850 mil clientes da DixAmico fazem já são realizados nos laboratórios do grupo Amil.

"Nossa meta é atender 100% deles", diz a diretora-geral. Na operadora, os exames representam 12% dos gastos totais, só perdendo para as despesas com hospitais.

Além da rede Focus, o grupo Amil também é dono do laboratório Sérgio Franco, no Rio de Janeiro, com cerca de 50 unidades no Estado.

Mas não é apenas o ganho financeiro imediato que as operadoras visam. O objetivo também é ficar mais próximo de seus clientes. "Se eu oferecer qualidade, eles vão valorizar o plano como um todo", explica Adriano Loverdos, superintendente de recursos assistenciais da Unimed Paulistana.

Depois de inaugurar neste ano uma unidade em São Paulo com capacidade para fazer 60 mil exames de sangue por mês, a Unimed também estuda abrir postos de coleta de sangue por toda a cidade.

Se as operadoras estão satisfeitas com os resultados obtidos com a experiência, o mesmo não pode ser dito das empresas de diagnóstico que prestam serviços para elas.

Afinal, em companhias como a Diagnósticos da América e o Fleury, a maioria dos pacientes usa o plano de saúde para pagar os exames.

São cerca de 40 milhões de brasileiros que têm planos de saúde. As demais 140 milhões de pessoas dependem basicamente do serviço público. Poucos são os que pagam por cada consulta ou exame que fazem. Por isso a principal fonte pagadora dos centros de diagnóstico no Brasil são as operadoras.

"Por enquanto a rede própria aparece como mais uma opção. Mas daqui a pouco eu vou tirar clientes das empresas credenciadas", afirma Loverdos, da Unimed Paulistana, que tem 1,12 milhão de clientes.

Para Mauro Silverio Figueiredo, diretor-presidente do Fleury, essa concorrência entre prestadores de serviço e planos de saúde já se tornou bastante clara.

"As operadoras estão buscando ficar mais próximas de seus clientes. No entanto, quando essa verticalização se intensificar, ela deve criar uma relação estranha. Isso porque ao mesmo tempo que a operadora é minha cliente, ela é também minha concorrente", avalia Figueiredo.