Título: EMS prevê R$ 180 milhões para desenvolver genéricos
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Empresas, p. B1

Telma Salles, diretora da EMS: planos de elevar imagem ao tamanho da empresa Ainda de longe, visto da rodovia SP-101, o prédio revestido de placas metálicas e vidros azuis, no município de Hortolândia (SP), próximo a Campinas, pode ser facilmente confundido com o QG de uma empresa de tecnologia, como a IBM, já instalada por ali, ou a Dell, que erguerá uma fábrica nas redondezas. No topo, a placa com o logotipo da companhia desfaz parte desta percepção, mas só quem ingressa ali descobre o que se produz na extensa fábrica que se ergue por trás da sede administrativa: medicamentos, na maioria genéricos.

Nos últimos anos, o grupo EMS-Sigma Pharma, de capital nacional e gestão familiar, transformou-se numa máquina de produção de medicamentos. Em 2005, foi o terceiro maior em volume de vendas graças a um forte crescimento proporcionado pela linha de genéricos. Suas vendas, que ficaram abaixo apenas da francesa Sanofi-Aventis e do brasileiro Aché, contabilizaram R$ 983 milhões, alta de 37% sobre o ano anterior, segundo dados do IMS Health. Se computadas apenas as vendas de genéricos, o laboratório tenta "roubar" a liderança da Medley numa disputa acirrada: tem 28,7% do mercado nos últimos 12 meses até abril, contra 29% da rival.

Os executivos do EMS assinalam que boa parte deste desempenho se deve à agilidade com que o grupo colocou um genérico na prateleira de uma farmácia. E o motor desta máquina está no laboratório de pesquisa e desenvolvimento (P&D), criado em 2000 a partir de um investimento de R$ 25 milhões que os acionistas encaravam inicialmente como um gasto com resultados incertos. No triênio 2006-2008, o grupo EMS-Sigma Pharma prevê aplicar 6% de sua receita em P&D, o equivalente a R$ 180 milhões, o que provavelmente o coloca como um dos maiores laboratórios farmacêuticos da América Latina. Na quarta, o grupo anuncia uma parceria internacional.

Com isso, o grupo pretende continuar mantendo a meta de lançar cinco apresentações de genéricos por mês, o que lhe garante o maior leque de cópias na praça. "O laboratório de P&D é uma demonstração do compromisso da empresa de colocar os medicamentos com eficácia e segurança no mercado", diz a diretora de relações externas do grupo EMS, Telma Salles. A meta é crescer, por ano, 30%. O laboratório reúne cerca de 200 pessoas - metade são graduados em farmácia.

Eles desenvolvem a formulação, fazem os experimentos de validação e estabilidade, elaboram os métodos de análise e levam a droga à planta piloto. "Com ela, há maior agilidade nos testes antes de o produto desenvolvido chegar à linha de produção. São poucas as empresas no Brasil que a possuem", conta a gerente de desenvolvimento analítico do laboratório, Patrícia Viel. Dali, o processo é replicado na linha de produção.

A história do grupo EMS começou nos anos 50 com uma pequena farmácia fundada por Emiliano Sanchez, já morto, em Santo André, no ABC paulista. Em 1964, iniciou a fase industrial. A grande expansão, contudo, foi dada por seu filho, Carlos, depois de a empresa ter abraçado a Lei dos Genéricos, patrocinada pelo governo federal no fim dos anos 90. A lei não conseguiu virar o mercado ao avesso - os mais pobres continuaram longe das farmácias. Mas quem já comprava teve acesso a drogas até 35% mais baratas. Isso permitiu que as empresas nacionais aparecessem na lista dos maiores grupos farmacêuticos do país, antes capitaneadas por multinacionais. Hoje, quatro empresas nacionais respondem por 80% dos genéricos.

A fábrica do EMS foi erguida em 1999 numa fazenda que pertencia à família e exigiu investimento de US$ 50 milhões. Há planos de triplicar a capacidade. A primeira fase do projeto, cuja unidade foi aprovada pelo FDA, o órgão regulador americano, deve ser inaugurada no segundo semestre e vem exigindo também US$ 50 milhões. A capacidade de produção de medicamentos sólidos, como comprimidos, deve pular de 200 milhões para 300 milhões de unidades. A segunda fase, que prevê chegar a 600 milhões de unidades, demorará cinco anos para ser completada.

O portfólio administrado pelo grupo consiste numa linha de genéricos com 340 apresentações, remédios de marca propagandeados por 1,3 mil promotores (uma das maiores forças de vendas), produtos hospitalares e de consumo, como o Energil C, e correlatos, como xampus licenciados com a marca de bonecas Bratz.

Os resultados deram ao grupo disposição de ultrapassar as fronteiras, exportando medicamentos para Portugal, como uma droga para o tratamento de transplantados. Mas, apesar deste impulso, a imagem do grupo ainda é pouco conhecida pelo grande público. "Até agora, o grupo ficou focado em seu crescimento, com o lançamento de produtos, investimentos no parque industrial e no laboratório", afirma Telma Salles. "Hoje o grupo é maior do que sua imagem", diz a executiva, que ajudará na missão de aumentar a exposição das três letrinhas que formam a marca de genéricos.