Título: Cessão de crédito dá fôlego ao BMG
Autor: Ivana Moreira, Janes Rocha e Maria Christina Carva
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2004, Finanças, p. C1
O Itaú e o banco mineiro BMG fecharam parceria para a cessão de créditos da carteira de empréstimo consignado a pessoas físicas. O acordo prevê uma liberação mínima de R$ 1,5 bilhão para clientes do BMG num prazo de 36 meses. Nos próximos dias, o BMG deverá anunciar um acordo até quatro vezes maior com a financeira francesa Cetelem, a maior da Europa.
A primeira liberação do acordo com o Itaú será de R$ 500 milhões. As próximas, mensais, serão de no mínimo R$ 100 milhões. O valor poderá chegar a R$ 150 milhões por mês, de acordo com os entendimentos entre os dois bancos.
"O acordo com o Itaú é o reconhecimento da expertise do banco, o BMG é especialista em crédito consignado", disse ontem o vice-presidente executivo, Roberto Rigotto. Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, o diretor executivo de crédito ao consumidor do Itaú, Francisco Canepa, afirmou que o BMG é "o melhor banco em crédito consignado do país".
A operação ontem anunciada não é a maior realizada pelo BMG mas é a de prazo mais longo. Segundo Rigotto, o acordo com o Itaú dará "muito mais fôlego" ao banco. "Não precisaremos ficar fazendo cessões pontuais."
De uma carteira atual de R$ 3,5 bilhões, cerca de R$ 2,6 bilhões referem-se à cessão de créditos para outros bancos, como o Bradesco, segundo o vice-presidente. "É a forma de captarmos recursos." Por isso, a carteira contabilizada no balanço do banco montava a R$ 1,8 bilhão em setembro.
Rigotto reconheceu que a parceria com o Itaú foi efetivada em momento oportuno, quando, em consequência da intervenção do Banco Santos, instituições médias e pequenas vêm tendo maior dificuldade na captação de recursos. "Não estávamos incrementando a carteira", admitiu. O acordo poderá ser renovado.
Especialistas do mercado financeiro já esperam a intensificação das operações de cessão de crédito como alternativa dos bancos médios para melhorar a liquidez, na esteira da retração dos grandes investidores após a intervenção no Banco Santos.
Cessão de crédito é uma das operações mais tradicionais do mercado financeiro. Mas, geralmente, são realizadas em dimensões menores e nem chegam às páginas dos jornais. Interessam aos bancos que cedem a carteira para alavancar os negócios e ganhar mais liquidez. Também interessam a quem assume o risco, para ganhar experiência.
A Cetelem, com 29 bilhões de euros em operações de crédito na Europa, ainda não tem um tamanho compatível no Brasil, onde opera desde 1999 e fechou outubro com uma carteira de R$ 400 milhões. Os acordos com bancos brasileiros são um dos caminhos para crescer citados nesta semana pelo presidente mundial da Cetelem, François Villeroy de Galhau, em entrevista ao Valor. "Eles trazem os clientes; nos entramos com nosso know how", explicou.
O BMG atua no crédito consignado deste 1998, quando lançou carteira voltada para servidores públicos. Esta carteira soma hoje em torno de R$ 1,3 bilhão. O crédito consignado para empregados da iniciativa privada, lançado depois, registrou um grande crescimento, de R$ 30 milhões em 2003 para R$ 400 milhões neste ano.
Em setembro, o BMG foi o primeiro a assinar convênio com o INSS e a oferecer empréstimo consignado para aposentados e pensionistas, inclusive para os que recebem por outras instituições. Em menos de três meses, a carteira já passou dos R$ 900 milhões. "Este é um nicho de mercado que entendemos", afirmou o vice-presidente. A taxa de juros média cobrada pelo banco nestas modalidades é de 3% ao mês.
O BMG fechou o primeiro semestre de 2004 com um lucro de R$ 76,6 milhões, quase o dobro dos R$ 38,6 milhões apurados no mesmo período do ano passado. As operações de crédito cresceram 79%, atingindo R$ 1,645 bilhão. O patrimônio líquido subiu 32%, chegando a R$ 392,2 milhões, 32% contra R$ 296,8 milhões em 2003.
"O nosso desempenho positivo é resultado da expressiva expansão dos ativos, crescimento e diversificação do funding, gestão de custos e administração eficiente dos riscos de crédito", define o presidente do banco, Ricardo Guimarães. "O banco mantém carteiras sadias." O banco fundado em 1930 tem estrutura enxuta, com apenas 10 agências em operação no país.
Na nota do Itaú, Canepa informou que o acordo ampliará a carteira de crédito consignado do banco de R$ 80 milhões para R$ 580 milhões neste mês. O BMG fará empréstimos aos clientes nos 15 mil pontos de atendimento do Itaú e lhe cederá parte da carteira, alavancando as operações e ficando com parte da receita. Já o Itaú ganhará ao aumentar a carteira.