Título: PT quer manter tropas federais na Bahia
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Fonte: Valor Econômico, 13/02/2012, Política, p. A8

A Bahia com Wagner piorou (...) com ACM era melhor. PMs, mesmo que trabalharmos (sic) no carnaval vamos fazer corpo mole. Omissão". Os dizeres acima estamparam um dos cartazes pendurados na entrada do sindicato dos bancários, onde associações ligadas à polícia militar baiana se reuniram dia após dia durante a paralisação da categoria no Estado.

A sentença é uma óbvia provocação ao governador petista Jaques Wagner, que em 2006 conseguiu uma vitória histórica de 1º turno e tirou do comando estadual o grupo ligado a Antônio Carlos Magalhães (governador da Bahia morto em 2007), que lá estava desde 1991.

As associações que sustentaram o motim policial, que durou 12 dias e acabou no sábado, não tem ligação com os carlistas, pelo contrário. Foram apoiadores da campanha de Wagner, que junto com seu grupo político deu respaldo - e segundo o ex-PM e líder dos manifestantes, Marco Prisco, aporte financeiro - a outra grande paralisação policial, em 2001, quando o governador era César Borges (ex-PFL, hoje PR).

"Wagner, então deputado federal, foi parceiro desses mesmos grevistas, fez seu nome junto a essas bases naquela greve", atesta Geddel Vieira Lima (PMDB), vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. "Ele mostrou uma fragilidade enorme ao se dizer "surpreendido" pela paralisação. Não eram parceiros dele? Até o baixo clero da Assembleia Legislativa da Bahia sabia que isso ia acontecer e ele viajou para Cuba", continua.

"É um episódio a ser debitado na conta do governador e dos seus pares. Pelegrino mesmo foi um dos maiores agitadores da greve de 2001. E agora se escondeu" acusa o ex-deputado federal José Carlos Aleluia (DEM). As falas de Geddel e Aleluia explicitam a intenção dos opositores de Wagner em lhe pregar a pecha de desinformado sobre os subterrâneos de seu governo. A citação ao deputado federal Nelson Pelegrino também não é gratuita. Ele será o candidato do PT na sucessão à prefeitura de Salvador este ano.

PMDB, DEM e PSDB mantêm conversas há tempos sobre a possibilidade de lançarem uma candidatura conjunta para fazer frente ao candidato petista, que terá a seu lado as administrações estadual e federal. "Seria a coisa mais inteligente a se fazer, porque seria o representante de uma ampla frente, com muito tempo de propaganda na TV", diz Aleluia.

Difícil está sendo achar um nome consensual. Nos bastidores, envolvidos de parte a parte entregam: os três partidos desejam a aliança, mas pleiteiam, por diferentes motivos, encabeçar a chapa.

Para o DEM, preocupado que está com sua sobrevivência política, não há sentido em abrir mão da candidatura do deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto, líder nas pesquisas de intenção de voto.

O embate entre tucanos aliados do ex-governador de São Paulo, José Serra, e do senador Aécio Neves (MG) tem de fato influenciado os rumos do PSDB na Bahia, conforme adiantou o Valor na quinta-feira. A ala do partido próxima a Serra coloca o ex-prefeito e deputado federal Antônio Imbassahy como pré-candidato. Os aecistas preferem apoiar ACM Neto.

Já o PMDB, que colocou o nome do ex-prefeito e radialista Mário Kértesz à mesa, não quer se indispor frontalmente ao PT, seu aliado federal, patrocinando uma candidatura do DEM ou do PSDB. Um dos participantes da costura afiança ainda que seria o pior dos mundos para Geddel, porque mesmo sendo oposição a Wagner na Bahia, "ele detém um cargo de confiança na Caixa, com uma caneta poderosa para indicar aliados a postos estratégicos. Não vai querer arriscar isso".

A possibilidade de irem às urnas separados é roteiro conhecido e desagradável à oposição. Em 2008, Imbassahy concorreu pelo PSDB e ACM Neto pelo DEM. Nenhum deles sequer chegou ao segundo turno.

Do lado governista a situação não é muito diferente. A base de Wagner na Assembleia Legislativa é ampla e contempla partidos como PSB e PCdoB, que prestaram solidariedade ao governo durante a paralisação, mas eles têm suas próprias pretensões para outubro. A senadora Lídice da Mata (PSB) e a deputada federal Alice Portugal (PCdoB) são pré-candidatas. Mesmo uma aliança não é garantia de sucesso, e 2008 também serviu de lição aos petistas: à época, o atual senador Walter Pinheiro (PT) teve Lídice como sua vice, o apoio do governador e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E não se elegeu.

Naquele ano o prefeito João Henrique Carneiro (PP) estava no PMDB e conquistou sua reeleição empurrado pelas verbas que o então correligionário Geddel, ministro da Integração Nacional destinou ao município. Carneiro venceu a eleição de 2004 pelo PDT e desembarcou do PMDB rumo ao PP em 2011. Sua gestão tem alto índice de desaprovação e sofre a oposição de petistas, tucanos, democratas e pemedebistas. Mas ninguém descarta receber seu apoio - ou, pelo menos, não desejam ver o prefeito trabalhando para a campanha do adversário. João Leão (PP), secretário da Casa Civil, vislumbra a sucessão.

O pré-candidato do PT diz não ver risco de a paralisação da PM influenciar a eleição ou abalar a popularidade de Wagner, mesmo com os 166 homicídios registrados no período, de acordo com a secretaria estadual de Segurança Pública. "Tive acesso a pesquisas encomendadas por nós [do PT] e de alguns institutos. A popularidade do governador permanece alta", alega Pelegrino. Ele diz não acreditar que os policiais farão corpo mole na volta ao trabalho, mas sugeriu ao governador que mantenha as tropas federais em Salvador durante o carnaval. "Ajudará a elevar a nossa autoestima e vai melhorar a imagem da Bahia", avalia.

Profissionais da área de marketing político ouvidos pela reportagem concordam com o deputado, mas veem outra motivação para a permanência das tropas. Para eles, um carnaval tranquilo sepultaria o uso da paralisação como pauta para as eleições municipais.

Mas o maior desafio para os postulantes ao Palácio Tomé de Sousa será lidar com o comportamento particular do eleitor soteropolitano, que perdura em sua imprevisibilidade desde a redemocratização.

Primeiro prefeito eleito pelo voto direto depois da ditadura militar, Mário Kértesz obteve em 1986 a vitória pelo PMDB depois de romper com o grupo carlista e se aliar à esquerda. Foi o único a fazer seu sucessor, elegendo o popular radialista Fernando José, também pelo PMDB. Quando tentou voltar ao governo, em 1992, ficou com o último lugar na eleição.

A eleita foi Lídice da Mata, então no PSDB, que sofreu forte oposição do governo estadual de ACM. Foi sucedida por Antônio Imbassahy, então no PFL, cuja gestão popular o levou a um segundo mandato, também bem avaliado.

Em 2004, o PFL buscava manter a hegemonia na cidade e lançou mão de um de seus nomes mais vistosos, César Borges, governador até 2002 e eleito senador no mesmo ano. Parecia a estratégia perfeita, mas Borges foi abatido em segundo turno pelo azarão João Henrique (PDT), deputado estadual que se notabilizara pela defesa aos direitos do consumidor e opositor de Imbassahy e ACM.

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