Título: Oracle vai integrar sistema de gestão do grupo Avipal
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Empresas, p. B2

Até junho de 2007, as 12 unidades de produção de lácteos, frangos e suínos do grupo Avipal no Rio Grande do Sul, na Bahia e em Mato Grosso terão seus dados integrados em um único sistema. Mas o que os cerca de 500 usuários iniciais da rede não deverão nem perceber é que a infra-estrutura básica sobre a qual os programas vão funcionar não estará instalada em nenhum desses lugares, mas no centro de serviços da Oracle - a fornecedora do sistema - em Austin, no Estado americano do Texas.

Fechado em maio, o acordo entre a Avipal e a Oracle é um exemplo de duas tendências do mercado de tecnologia da informação (TI) no Brasil: o investimento crescente das empresas de agronegócios, uma inclinação detectada em uma recente pesquisa da consultoria IDC, e a aceitação do modelo sob demanda, em que o cliente paga uma quantia variável pelo uso do software ou dos equipamentos, em vez de comprar os ativos.

Além de unificar os processos de produção de leite e carne, com a integração de seus abatedouros, o grupo vai adotar a tecnologia da Oracle para gerenciar suas áreas administrativa e financeira. O projeto de instalação vai durar um ano e será feito por uma equipe de 50 pessoas. Módulos contábeis e de custos, além de outros programas administrativos, entrarão no ar em fevereiro. Em junho será a vez dos sistemas que controlam a produção das unidades de leite. O valor do contrato não é revelado.

"Temos planos muito agressivos, que incluem crescimento orgânico e um processo de aquisições, mas para implementá-los é preciso ter uma estrutura eficiente", diz Rami Goldfajn, superintendente do grupo Avipal.

Dono das marcas Elegê, Santa Rosa, Dobon, Avipal e Granóleo, o grupo iniciou um processo de reestruturação em 2004, com a contratação da consultoria Galeazzi & Associados, que assumiu a gestão dos negócios.

Como outras empresas do setor, a Avipal tem sofrido o impacto de uma uma crise internacional, em especial os reflexos da gripe aviária. No primeiro trimestre, as vendas da companhia nos segmentos de carne de frango e suínos caíram 22,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. A queda afetou o desempenho: a receita líquida total, incluindo a divisão de lácteos, recuou 6,8%, para R$ 413,87 milhões.

Apesar das dificuldades, entre janeiro e março o volume de leite produzido aumentou 26% e o faturamento bruto da empresa com lácteos aumentou 9,7% . "Há muito espaço para crescer e é necessário preparar a empresa para isso", diz Cláudio Santos, gestor do Centro de Serviços Compartilhados (CSC) do grupo. Com os programas da Oracle, a Avipal vai substituir um sistema desenvolvido internamente, que já não era capaz de garantir o nível de documentação dos processos exigido atualmente, diz Santos.

Para a Oracle, o contrato é importante por duas razões. Primeiro porque fortalece a divisão de agronegócios. "Há dois anos temos investido fortemente no segmento", diz Silvio Genesini, presidente da companhia no Brasil. "As vendas mais relevantes que fizemos neste ano foi para empresas do setor."

Com o câmbio desfavorável e a competição cada vez mais acirrada, a tecnologia tem se tornado uma ferramenta significativa para as empresas do setor reduzirem custos e ganharem competitividade em relação aos concorrentes, diz André Papaleo, diretor da área de agronegócios da Oracle na América Latina. "É o caso da rastreabilidade dos produtos, o que ajuda a determinar sua origem e identificar lotes com problemas, um ponto importante para as empresas exportadoras", exemplifica o executivo.

O segundo ponto importante para a Oracle é que parte do contrato será feito sob demanda, um modelo cada vez mais atraente porque garante um fluxo de receita de longo prazo para as companhias de TI. No caso da Avipal, a decisão foi comprar as licenças de software, mas usar a infra-estrutura da Oracle para manter o sistema em funcionamento.

"O licenciamento é feito por número de usuários", diz Jack Sterenberg, diretor de "on demand" da multinacional. Se a Avipal decidir aumentar o número de usuários do sistema, a Oracle entra com mais software e o preço total sobe. Se o número de usuários diminuir, o valor cai.

A economia obtida com o modelo sob demanda varia, mas em média representa um desconto de 40% a 50% em relação ao formato tradicional, diz Sterenberg.

As modalidades de contrato variam bastante. Em alguns tipos de acordo, o cliente não compra o software ou os equipamentos, nem contrata a equipe de profissionais, que também é terceirizada. O pagamento é feito por meio de um aluguel mensal. Por enquanto, porém, a maioria dos contratos ainda inclui um pouco dos dois modelos - tradicional e sob demanda. "Em cinco ou seis anos o mercado deve migrar para um modelo mais puro de serviços, mas nesse período teremos modelos híbridos", diz Genesini.

O centro de dados da Oracle em Austin está abrigado em um galpão sem placa, para não chamar a atenção de ladrões de dados. As instalações ficam há dez minutos da fábrica da Dell, o que garante acesso rápido aos equipamentos, diz Sterenberg. No centro, funcionam mais de 15 mil servidores.

Apesar da infra-estrutura estar em território americano, onde os computadores são mais baratos, os técnicos estão espalhados em países de baixo custo, como Romênia, Índia, China e Brasil. "Os clientes brasileiros são sempre atendidos em português, mas uma eventual correção pode ser feita por um profissional de qualquer um desses países", explica Sterenberg.

Além do prédio no Texas, a Oracle mantém um centro de contingência no Colorado, no caso de ocorrer alguma situação de emergência em Austin. Localizado nas Montanhas Rochosas, onde o acesso é difícil, a segurança do segundo centro é reforçado pela localização de um vizinho importante, conta Sterenberg: o centro de dados da CIA, o serviço secreto dos EUA, fica na mesma região. (JLR)