Título: Time de robustas para desfilar em Berlim
Autor: Thimmel, Stefan
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Empresas, p. B5

Quando as bicicletas prateadas com o logo vermelho DB voltam a aparecer nas esquinas e nos pontos turísticos de Berlim, Munique, Colônia e Frankfurt, é oficial: a temporada em duas rodas está aberta e o inverno alemão terminou. Nas quatro das doze cidades onde se disputa a Copa existem quatro mil bicicletas de desenho vistoso e com um pequeno computador a bordo, prontas para serem alugadas. São as chamadas Call a Bike, da empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn - e nesta estação espera-se que elas seduzam os fanáticos pela bola.

Só em Berlim existem mais de 1,5 mil bicicletas que oferecem, antes e depois dos jogos, a possibilidade de visitar com autonomia o Portão de Brandenburgo ou pedalar placidamente pelo lindo boulevard Unter den Linden. Quem quer evitar engarrafamentos e valoriza a mobilidade individual com limitações mínimas estará bem equipado com as tais bicicletonas. Estão estacionadas em todos os pontos centrais e servem para ir ao trabalho, às compras ou passear.

A diferença delas para as outras bicicletas de aluguel existentes em qualquer canto do mundo é que as Call a Bike são, primeiramente, todas iguais, prateadas e com cara de boa saúde - não tem a "vermelha com cestinha", a "preta mais estilosa", a "azul menos acabada". Também não são guardadas por ninguém que peça documento, anote horários e distribua tíquetes. O usuário faz tudo sozinho - basta ter um telefone e um mapa da cidade na mão.

O primeiro passo é se inscrever, na Alemanha, ligando para 07000/5225522. Recebe-se, então, um número de cliente e um código de desbloqueio. Com eles é possível, a qualquer momento, habilitar qualquer bicicleta disponível com um simples telefonema. O serviço de reserva funciona 24 horas e para acioná-lo é só ligar para o número escrito no mecanismo de bloqueio da bicicleta e digitar o código no aparelho instalado na bike.

Depois do passeio, deixa-se a magrela - que neste caso está mais para "robusta" - em alguma esquina das chamadas áreas Call a Bike (perto das estações de metrô ou em todos os pontos turísticos e centrais), e com outra ligação finaliza-se o aluguel. Custa 0,07 euros por minuto ou 15,0 euros por 24 horas. Na conta final considera-se o tempo entre o telefonema que inicia o aluguel e o de devolução. A cobrança é feita via cartão de crédito.

Mesmo que a DB-Rent, um braço da estatal Deutsche Bahn, ainda perca dinheiro com o negócio das Call a Bike, as vigorosas unidades especiais já têm aura "cult" e encontram cada vez mais adeptos. Em 2005, umas 92 mil pessoas usaram as bikes vermelho-prateadas para fazer mais de 450 mil viagens, um aumento de 18% em relação ao ano anterior. Em 2006, a gerência da Deutsche Bahn tem a esperança de fugir do vermelho.

As Call a Bike não são uma invenção da empresa de trens. A idéia ocorreu ao estudante de informática alemão Christian Hogl, em 1995. Durante cinco anos, junto a um colega, o jovem empresário desenvolveu e aperfeiçoou a iniciativa e no começo do ano 2000 as bicicletas com ar futurista rodaram pela primeira vez nas ruas de Munique.

Tratava-se de uma típica empresa "high-tech" da fase de boom da economia alemã, no final da década de 90. Apesar do crescimento veloz, do reconhecimento público e do respaldo político de um país que há muito adotou as duas rodas como transporte, o desencanto veio logo. Os custos do negócio estavam fora de controle, a taxa cobrada aos usuários era baixa demais e no final daquele ano a empresa dos inventores quebrou.

Em 2001 a Deutsche Bahn comprou a idéia. Desde então Call a Bike é uma peça a mais no conceito abrangente de oferecer mobilidade vendido pelo consórcio - da qual faz parte também o DB-Car-Sharing, um sistema pelo qual em muitas estações de trem alemãs pode-se alugar um carro por algumas horas e a um custo relativamente baixo. Assim, montar na bicicleta é a continuação natural de uma viagem de trem.

Os usuários do serviço têm entre 18 e 35 anos, na maioria, e se dividem em dois grupos. Pela manhã, alugam bicicletas os que querem percorrer a distância entre as estações de metrô e trem e o trabalho; depois do meio-dia e à tarde, os translados focam o lazer - uma ida ao cinema ou fazer compras.

A aceitação do sistema é grande e dá para perceber pelo jeito simpático com que as bicicletas são tratadas, sem casos de roubo ou vandalismo. Mas para distâncias mais longas elas não são as mais indicadas. As Call a Bike são pesadas e têm suspensão muito elástica, o melhor é usá-las só nos centros urbanos. Quem anda com elas mais de 20 quilômetros sai esgotado do selim.