Título: Elétricas investem em projetos limpos
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2006, Empresas, p. B8

As empresas de energia começam a perceber a oportunidade de ganhos extras com a demanda mundial por créditos de carbono. Grandes grupos que atuam no país como a Energias do Brasil, CPFL e Tractebel já começam a investir em projetos vinculados ao Tratado de Kyoto. As empresas de energia vislumbram a possibilidade de ganhar com a venda de créditos de carbono, além da tradicional receita da venda de energia. Uma das maneiras é investir em projetos no Brasil que reduzam ou absorvam gases poluentes, para que empresas que não cumprem as metas do protocolo comprem os certificados brasileiros denominados CERs (sigla em inglês para Certified Emission Reducion).

A Tractebel, maior geradora privada do país, tem um projeto de queima de resíduos de madeira, na usina de Lages, em Santa Catarina, que está entre os 172 projetos em todo o mundo que podem negociar créditos de carbono. Ao queimar resíduos de madeira a unidade de co-geração de Lages gera, além de vapor e energia, possibilita a venda de CERs, segundo o presidente do grupo no Brasil, Manoel Zaroni.

A empresa pretende, com o projeto, gerar até 200 mil toneladas de créditos de carbono por ano - que representariam uma receita anual de 2 milhões de euros por ano nas cotações atuais. Zaroni acredita na possibilidade de comercialização por dez anos, pelo menos, dos certificados produzidos por Lages.

No Brasil, 40 empresas do setor já têm algum tipo de projeto nesse sentido - a maioria gera energia com bagaço de cana. Agora, uma segunda onda de elétricas tentam sucesso, as que utilizam projetos de co-geração e de geração hidrelétrica - renovável e sem emissão de gases poluentes.

A Energias do Brasil, holding que controla empresas de geração, distribuição e comercialização de eletricidade no país, prevê a venda de 900 mil toneladas de CERs entre 2008 e 20012, volume que poderá gerar uma receita adicional de 9 milhões de euros - se as cotações dos papéis continuarem nos patamares baixos de atualmente, na casa dos 10 euros a tonelada. É bom lembrar que a tonelada de CO2 já chegou a mais de 30 euros.

A empresa está em processo de certificação de três pequenas centrais hidrelétricas (consideradas pouco agressivas ao meio ambiente), mais uma linha de transmissão e ainda a última unidade geradora da hidrelétrica de Mascarenhas. Esses projetos acrescentam nova energia ao mercado, sem danos à atmosfera, daí a razão de terem o direito da venda de certificados

A CPFL Energia, um dos maiores grupos do setor elétrico, quer entrar na comercialização de certificados por meio de um projeto de modernização de pequenas centrais hidrelétricas antigas. Ao fazer com que essas usinas passem a gerar mais energia com o mesmo reservatório, a CPFL pretende vender cerca de 160 mil toneladas de carbono, que poderão gerar uma renda extra de 5 milhões de euros a 6 milhões de euros , explica o vice-presidente de geração do grupo, Miguel Saad.