Título: Mantega elogia BC e nega política deliberada de valorização do real
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Finanças, p. C2

O governo não tem uma política deliberada de valorização da moeda brasileira mas o Banco Central (BC) e o Tesouro vêm atuando para atenuar os impactos da taxa de câmbio. A afirmação é do ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicando aos deputados da bancada ruralista que reconhece os problemas do real valorizado para as exportações. Como exemplo do trabalho do BC e do Tesouro, Mantega citou que, nos últimos três anos, foram comprados mais de US$ 150 bilhões. Apenas no final de 2005, BC e Tesouro compraram US$ 30 bilhões. O ministro disse que, em alguns momentos, o BC tem comprado agressivamente, "até US$ 1 bilhão em um dia".

No cenário da semana passada, com "exacerbada volatilidade" nos mercados, Mantega justificou a atitude do BC e do Tesouro. O objetivo, segundo ele, era evitar o pânico e o "efeito manada". Portanto, o ministro disse que, nessas condições, é normal dar mais liquidez ao mercado. "Ontem, com a ameaça da saída de mais recursos, foi anunciado um leilão de swap. O BC tem atenuado a valorização cambial", afirmou.

Mantega garantiu aos deputados da Comissão de Agricultura da Câmara que o governo trata o câmbio "sem artificialismos", atuando "às claras" para atenuar a valorização do real. Citou que há um projeto no Congresso para permitir que os exportadores façam uma retenção mais longa de moeda forte lá fora e reconheceu que a valorização prejudica a agricultura e outros setores.

Quanto à turbulência da semana passada, o ministro da Fazenda afirmou que a cotação do dólar - que chegou aos R$ 2,40 - já foi um alívio porque contratos de câmbio foram fechados nessa condição.

O ministro da Fazenda defendeu a política econômica do governo desde 2003. "Não acredito que a política econômica deste governo prejudicou a agricultura. Em 2003 e 2004, o setor foi muito bem e a política era a mesma", ponderou. Mantega admitiu que o câmbio, há dois anos, tinha situação mais favorável. Mas garantiu que o governo não procurou valorizar o real. O movimento foi, segundo sua análise, consequência da estabilidade econômica e financeira que atraiu mais moeda forte.

A atual política cambial foi reafirmada pelo ministro da Fazenda e a proposta de bandas cambiais foi muito criticada. "Brasil e Argentina já quebraram a cara com o câmbio fixo. Quem vai pagar a conta da banda menor? A banda até funciona no curto prazo, como foi com o câmbio fixo, mas os problemas explodem mais adiante", criticou.

Mantega disse saber que os juros influenciaram o câmbio e houve arbitragem, mas também informou que todos os países emergentes que tiveram bom desempenho comercial tiveram suas moedas valorizadas. Exemplos disso são a Rússia e o Chile. "Claro que os juros ajudaram nessa valorização. Mas o Copom obedece ao regime de metas, não olha para o câmbio", afirmou.

A taxa básica de juros foi reduzida ontem a 15,25% ao ano pelo Copom. Antes dessa decisão, Mantega disse que os 15,75% já eram uma das menores taxas nominais da história. Como ela vem sendo reduzida desde setembro, o ministro da Fazenda acredita que no final deste ano também será a menor taxa real.

"Confio nos companheiros do Copom e também no quadro que está configurado na economia brasileira. Inflação está tendendo ao centro da meta, o IPCA projetado para o final deste ano é de 4,3%, portanto abaixo do centro da meta. Isso dá um fôlego, dá um espaço para que o BC continue fazendo reduções da taxa de juros", comentou Mantega.

O ministro da Fazenda também procurou mostrar tranqüilidade com o estresse do mercado financeiro. "Não vejo como essa volatilidade, a saída de alguns bilhões de dólares do país ou uma elevação modesta da taxa de juros americanos possa afetar diretamente a economia brasileira em 2006. Poderá haver pequena redução do nível de atividade mundial, uma redução dos preços das commodities, mas isso, até agora, não nos afetou e não acredito que vá nos afetar. Não atinge a economia real, que está indo muito bem."