Título: Grupo Ultra está na reta final para adquirir a Uniqema na Europa
Autor: Martinez,Chris e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Empresas, p. B1

O Grupo Ultra é um dos mais sérios candidatos à compra da Uniqema, braço da inglesa ICI na área de oleoquímicos (utilizados principalmente na indústria de cosméticos) e surfactantes (produto para a indústria de limpeza). A venda da Uniqema está sendo coordenada pelo banco Lazard e, segundo o Valor apurou, já passou para a fase de verificação de números. Da primeira etapa, em que foi feita apenas uma oferta indicativa (chamada de non biding offer), apenas dois grupos foram selecionados.

A Uniqema faturou US$ 1,1 bilhão no ano passado, pouco mais de 10% das vendas totais do grupo ICI, um dos maiores do mundo na área química e de tintas. No Brasil, o grupo controla desde 1996 a Tintas Coral, adquirida por cerca de US$ 500 milhões da Bunge, juntamente com as operações da Alba na Argentina e Inca no Uruguai. As tintas, que representam 40% dos negócios da multinacional inglesa, não entram no negócio. A Uniqema tem unidades na Holanda, Estados Unidos e Malásia. Em Londres, um porta-voz da companhia informou que não comenta rumores de mercado e que um comunicado será publicado quando houver acordo.

Nelson Perez/Valor Estratégia de Paulo Cunha, principal executivo, tem sido pautada por expansão externa nas áreas química e de gás O Ultra atua na área química por meio de sua controlada Oxiteno, única fabricante do Mercosul de óxido de eteno e a maior de especialidades químicas do país. Fornece matéria-prima para as indústrias de alimentos, cosméticos, limpeza, tintas, petróleo e fios e filamentos de poliéster. Tem quatro unidades de produção no país, duas no Estado de São Paulo, uma na Bahia e outra no Rio Grande do Sul. Na Bahia, está investindo US$ 50 milhões na construção de uma fábrica de oleoquímicos.

A empresa tem ainda duas unidades de produção no México, adquiridas em dezembro de 2003 e que abriram as portas do grupo no mercado norte-americano. "Com a compra da Canamex e, depois, da Rhodia Veracruz, a Oxiteno ganhou um grande espaço no mercado internacional. E hoje a expansão no exterior é uma de suas prioridades", afirma um executivo do setor químico. Hoje, 30% da produção da Oxiteno já é exportada.

No fim do ano passado, a empresa venceu uma concorrência internacional para oferecer tecnologia para produção de etanolaminas e etoxilados para um novo complexo petroquímico na Arábia Saudita, na cidade de Al Jubail.

Segundo o Valor apurou, a avaliação interna no grupo Ultra é de que se eles são competitivos no fornecimento de tecnologia no exterior, podem ser também fabricantes, aumentando o valor agregado de seus produtos. Procurada, a direção do grupo Ultra não foi encontrada para comentar o assunto.

O grupo também vem apostando na internacionalização com outra de suas controladas, a Ultragaz, líder do mercado de gás de botijão (GLP) no Brasil. Neste ano, chegou a disputar os ativos de GLP da Royal Dutch Shell na Grã-Bretanha, França e Países Baixos. Associada aos grupos de private equity PAI Partners e Bain Capital, chegou a ser finalista da concorrência. Mas, na última hora, a Shell desistiu de vender os ativos. No Brasil, o Ultra já havia adquirido os ativos de distribuição de GLP da Shell em agosto de 2003, por R$ 170 milhões.

No ano passado, o grupo Ultra faturou R$ 5,2 bilhões e registrou uma geração de caixa operacional (Ebitda) de R$ 546 milhões. É um dos maiores conglomerados de capital nacional. Desde que perdeu para o grupo Odebrecht o leilão da Copene, em 2001, o Ultra mudou sua estratégia e, com o caixa reforçado, passou a buscar outras aquisições .

O Valor apurou que a aquisição da Uniqema não significará grandes desembolsos para o Ultra, se concretizada. A estrutura em gestação prevê a criação de uma subsidiária, que teria a maior parte de seu capital alavancada com recursos externos. Em 2004, quando adquiriu a Rhodia Especialidades no México, o presidente do grupo Ultra, Paulo Cunha, se mostrou surpreso com a facilidade de financiar a aquisição no mercado local. A empresa mexicana do Ultra pegou financiamento de cinco anos, com juro de 7% ao ano. No Brasil, a mais baixa taxa para investimento é a TJLP, do BNDES, de 8,15% ao ano.