Título: Classes A e B têm hábitos de países desenvolvidos
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Empresas, p. B2

Uma parcela significativa dos brasileiros de maior renda que vivem nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro consome telecomunicações como os habitantes de países desenvolvidos. São pessoas que têm acesso à internet, telefone fixo e, principalmente, celular e começam a se familiarizar com o uso de voz sobre protocolo de internet (voz sobre IP).

Esse é o teor a pesquisa "Tendências em Telecom", feito pela TNS InterScience e obtido pelo Valor. Foram ouvidas 500 pessoas nas duas cidades, com idades de 18 a 60 anos e pertencentes às classes A, B e C.

Embora haja diferenças evidentes entre as faixas de renda, o levantamento mostra que a classe C não está excluída do acesso a esses serviços. Nesse segmento, 36% utilizam a internet (em casa ou no trabalho) e 41% dos que se conectam à web na residência o fazem via banda larga.

Mais relevante ainda são as parcelas dos entrevistados da classe C em que alguém na residência possui celular (94%) e que têm telefone fixo (72%). Na classe A, esses números são de 98% e 96%, respectivamente.

"A classe A do Brasil tem hábitos parecidos com os da classe A de países como Japão, Austrália e outros. O mais curioso é que a classe C também está incluída no consumo desses serviços. Daí para baixo é que há um abismo", afirma o diretor de tecnologia da TNS Interscience, Renato Trindade.

Para ele, a inclusão da classe C sinaliza que deverá haver uma homogeneização do uso de telecomunicações no Brasil nos próximos anos.

Enquanto 96% dos entrevistados afirmaram que eles próprios ou alguém de casa tem celular, 27% responderam que já consideraram a possibilidade de desligar o telefone fixo e ficar apenas com o móvel e 37% disseram acreditar que um dia terão somente o celular. No entanto, 84% disseram que contratariam uma linha fixa caso mudassem para uma nova residência.

"Isso quebra alguns mitos. A telefonia fixa pode estar estagnada, mas a pesquisa mostra que a substituição para o celular vai ser lenta. Ela só é mais acelerada entre os mais jovens", destaca Trindade.

Paulistanos e cariocas estão mais afeitos à convergência entre serviços fixos e móveis do que à substituição de um pelo outro. Apesar disso, apenas 35% disseram que ficariam "satisfeitos" ou "encantados" se tivessem a mesma operadora para oferecer telefonia fixa e móvel. No Rio, esse grupo salta para 38% - algo que a TNS InterScience atribui ao fato de a Telemar apostar fortemente na convergência tecnológica.

Quando o tema são novas tecnologias, apenas 8% ouviram falar em voz sobre IP e, desse total, 29% já fizeram chamadas dessa maneira. Desse conjunto, metade utilizou o Skype, serviço que permite fazer ligações de computador para computador de graça ou para um telefone convencional com tarifas muito reduzidas.

O conhecimento em relação a voz sobre IP é maior entre os mais ricos: 21% dos entrevistados da classe A já ouviram falar da tecnologia, ante 12% na classe B e 4% na C.

A maioria das pessoas (87%) disse considerar importante ou muito importante manter o número atual de celular, sendo que 57% afirmaram que esse fator é impeditivo para que troquem a operadora.

O benefício da portabilidade, que permite aos clientes migrar de uma operadora para outra levando com eles o mesmo número, está previsto desde a privatização, mas nunca foi regulamentado pela Anatel. Agora, a agência promete fazê-lo até 2007.

Trocar de aparelho celular nos próximos seis meses é um objetivo para 37% dos entrevistados e, na média, as pessoas disseram estar dispostas a gastar até quase R$ 450 na compra. A Motorola é a marca mais desejada (43% da amostra), seguida pelas coreanas LG e Samsung. Líder no mercado mundial, a Nokia tem a maior rejeição (14%).