Título: Opositor venezuelano busca chavistas ligh
Autor: Murakawa,Fabio
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2012, Internacional, p. A9

Escolhido pela oposição venezuelana para ser o rival de Hugo Chávez nas eleições presidenciais de outubro, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, tem um grande desafio pela frente. Ele precisa convencer o eleitorado de seu país de que é possível implementar um outro modelo econômico sem que a fatia mais empobrecida da população perca os benefícios trazidos pelos programas assistenciais do governo.

Capriles conseguiu uma vitória avassaladora nas primárias da oposição, no domingo, ao lançar mão de uma estratégia inédita na oposição venezuelana: nada de ataques pessoais a Chávez. Esse discurso mais moderado, que lhe deu a vitória nas primárias, continuará a ditar o tom de sua campanha à Presidência. Com o eleitorado dividido em fatias quase iguais entre chavistas, antichavistas e independentes, o objetivo é conquistar os que não têm voto fechado com Chávez e também uma fatia considerável dos chamados "chavistas light", que aceitam as políticas assistenciais do presidente, mas estão insatisfeitos com a inflação alta, o aumento da violência e a fuga de investidores do país.

A estratégia do jovem governador, um advogado de 39 anos, tem o dedo dos marqueteiros cariocas Renato Pereira e Chico Mendes, vitoriosos nas campanhas do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do governador, Sérgio Cabral. Mais de 3 milhões de pessoas votaram no domingo, e Capriles ganhou com mais de 62% dos votos - o dobro do segundo colocado, o governador de Zulia, Pablo Pérez. Com a vitória nas primárias, em que participaram uma gama de partidos maiores e menores, de esquerda e de direita, os brasileiros continuarão à frente da campanha e manterão a postura adotada até aqui.

"É uma estratégia interessante. Enquanto Chávez faz um discurso antagônico e é muito carismático, Capriles diz repetidas vezes que vai governar para todos. Ele é jovem, pouco polêmico, tem perfil de administrador e tenta não assustar os eleitores pobres, que se beneficiaram com as políticas de Chávez", diz o analista Ricardo Gualda, especialista no discurso de Chávez.

A tarefa parece inglória: derrotar um presidente campeão em carisma, com índices de aprovação acima de 50%, e que disporá dos recursos do petróleo para bombar ainda mais os programas sociais. Para isso, Capriles precisará também descolar-se da pecha de "imperialista" que Chávez tenta colocar em seus adversários. A campanha está apenas começando.